Saúde: prioridade ou fumaça?, por Renato Soares Gutierrez, Médico - Zero Hora 12/11/2010.
É mais do que evidente que os governantes eleitos têm o sagrado direito de escolher suas equipes de trabalho. Mas, com os mesmos fundamentos, têm os eleitores o direito de comentar essas escolhas.
Como predominam no Brasil, desde sempre, as escolhas por critérios político-partidários, caberia, acho, algumas considerações sobre onde caberiam cuidados maiores, através do uso de critérios técnicos e da exigência de currículos profissionais mais consistentes.
De hábito, a área econômica não tem revelado surpresas, porque os escolhidos são profissionais com formação de graduação e pós-graduação na área, a maioria dos quais com experiências bem-sucedidas em governos anteriores, vide a recente indicação de Arno Augustin pelo governador eleito. Observe-se, na segurança e na cultura, a mesma linha, ou seja, o governador inclina-se pelo profissionalismo.
A saúde, no entanto, historicamente tem sido remetida ao “sorteio dos bifes”: escolhem-se seus titulares em contas numéricas (determinada agremiação solicita 19,5%!), ou pelo aplacamento da inconformidade dos suplentes, redundando na nomeação de vários advogados, economistas e alguns obscuros médicos, cuja militância sempre esteve nas bancadas políticas legislativas e muito pouco, ou nada, nas universidades, hospitais, postos de saúde e setores de coordenação da saúde pública.
Colocada como uma de duas prioridades do futuro governo Dilma, e certamente entre as maiores do futuro governo Tarso, fica difícil de entender que a saúde dos gaúchos e brasileiros vá manter essa escrita de lamentáveis memórias e muito escassos resultados.
Senão, vejamos: o setor da saúde entendido como “saúde pública”, os programas contra algumas doenças ou agravos previsíveis, vai razoavelmente bem (apesar dos recuos em alguns setores antes muito bem-sucedidos). A assistência aos que adoecem vai de mal a pior, imperam a desorganização, a falta de objetivos definidos, a ausência quase completa de planejamento com indicadores de saúde e operacionais, mesmo para o mais elementar tipo de avaliação, e a enorme mistificação, de todos os partidos, quanto aos programas de saúde da família como a única – e mágica – solução para tudo.
Faltam leitos e recursos? Certamente, mas também é certo que o desperdício é enorme, especialmente pelos gastos com atividades teóricas, em grande parte inúteis, como simpósios, seminários e workshops, que propiciam viagens em números alucinantes, para as melhores estâncias turísticas do país, de resultados jamais auferidos.
Urge, portanto, que a saúde seja finalmente contemplada com gente altamente qualificada, por seus currículos e sua experiência pregressa, e que seus projetos sistêmicos, em particular quanto à assistência médica, possam ser apreciados a partir do início dos governos, dando chance a que o eleitorado possa avaliar os resultados desses mandatos, que são a esperança de tanta gente.
Sem medo de errar, afirmo que os brasileiros, em sua maioria, estão esgotados com essa retórica, pernóstica e vazia, da afirmação de prioridades que se esvaem como fumaça, já nas primeiras brisas, mesmo as mais leves.
No Brasil, a saúde pública é tratada com descaso, negligência e impostos altos em remédios e tudo o que faz bem à saúde. Médicos e agentes da saúde são poucos e mal pagos; As pessoas sofrem e morrem em filas, corredores de ambulatórios e postos de saúde; As perícias são demoradas e burocracia exagerada; Há falta de leitos, UTI, equipamentos, tecnologia, hospitais e postos de saúde apropriados para a demanda; A impunidade da corrupção desvia recursos e incentiva as fraudes.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
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