terça-feira, 11 de dezembro de 2012

DECISÕES QUE AFETAM A VIDA

ZERO HORA 11 de dezembro de 2012 | N° 17280. ARTIGOS

 Luiz Carlos Corrêa da Silva*



Nos dias de hoje, graças ao desenvolvimento da tecnologia e do método científico, sabe-se de muitas coisas que há poucas décadas eram inimagináveis. Evoluímos muito com o rádio, a televisão, o telefone celular, a internet e seus múltiplos desdobramentos. A comunicação tornou-se ampla, veloz e obrigatória. O que acontece em qualquer canto da Terra logo se divulga em cadeia mundial. E quem fica à margem dessas ferramentas pode correr muitos riscos, um dos quais é deixar de se beneficiar com os avanços oferecidos para melhorar a saúde e a vida.

Este enorme desenvolvimento está atrelado a empresas ou corporações que o produzem ou adquirem o direito do seu uso, usufruindo fartos lucros pela posse da sua marca ou da sua distribuição. O capital sempre está presente e faz parte do circuito.

Mas nem tudo o que rende grandes lucros é bom e saudável para o ser humano. Diz o bom senso que tudo o que é prejudicial deveria ser banido ou, pelo menos, controlado ao máximo. Mas, quando um setor que aufere grandes lucros percebe ameaças para seus ganhos, ele busca de todas as maneiras manter o seu negócio, custe o que custar. Mesmo que signifique prejuízo letal para a sociedade, esta posição mercantilista pode permanecer imutável e, por vezes, até tornar-se ameaçadora para a soberania das nações.

O que estamos assistindo no setor do tabaco e do álcool demonstra claramente que a ambição, quando não tem limites, pode ser muito danosa ao conjunto social. Há um ano, em 14 de dezembro de 2011, a presidenta Dilma sancionou a lei federal de número 12.546, cujo texto contém diversos itens da máxima importância para o controle do tabaco (o produto) e do tabagismo (a doença). No entanto, um ano depois, ainda não houve sua regulamentação, isto é, a sequência de processos operacionais que garantem sua aplicabilidade.

Quem ganha com esse retardamento? Certamente, não é o já sacrificado povo brasileiro que aprova a lei na sua maioria. Quem “ganha” com isso é a doença e suas consequências terríveis que a maioria das famílias conhece muito bem. Quem não tem ou teve entre os seus alguém com problemas pulmonares, cardíacos ou câncer? Quem ganha com isso é uma indústria que já demonstrou historicamente não ter escrúpulos e usar de variadas e travestidas estratégias para chegar a seus objetivos: lucro a qualquer custo! Numa sociedade moderna, esclarecida e justa, como explicar a posição da defesa de um produto que só causa danos e letalidade?

Chegou o momento de todos se unirem em torno das mesmas ideias, dos mesmos objetivos, e deflagrar-se uma bandeira única pela saúde e por uma vida melhor. Liderados pelo Ministério da Saúde, todos os setores de governo envolvidos com o controle do tabaco e do tabagismo precisam mostrar aos brasileiros que são capazes de promover uma grande ação em prol da saúde, através da regulamentação da Lei 12.546, antes do final de 2012. Assim, poderemos iniciar um 2013 com mais dignidade.

Os danos causados, silenciosamente, pelo tabagismo são incomparavelmente maiores que os gerados pela gripe A e demais doenças infecciosas, e pelas causas externas, particularmente acidentes de trânsito e violência em geral.


*COMISSÃO DE TABAGISMO DA SBPT – SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA

Nenhum comentário:

Postar um comentário