terça-feira, 12 de março de 2013

SAÚDE FANTASMA


ZERO HORA 12 de março de 2013 | N° 17369

PÁGINA 10 | Rosane de Oliveira

Dedos de silicone

Não será surpresa se a médica Thauane Nunes Ferreira, flagrada pela Guarda Municipal em Ferraz de Vasconcelos (SP) com seis dedos de silicone para fraudar o ponto eletrônico, for dessas mulheres que protestam contra a corrupção na política distribuindo mensagens, falsas ou verdadeiras, na internet. Porque bater em políticos é um dos mais populares esportes nacionais, praticado por gente séria e idealista e por delinquentes que cometem pequenos, médios e grandes delitos.

Presa em flagrante, a doutora denunciou uma quadrilha da qual faziam parte 11 médicos e 20 enfermeiros. Profissionais que deveriam estar trabalhando no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) mandavam em seu lugar um dedo de silicone com o qual enganavam o equipamento de identificação digital.

O caso é mais um a ilustrar a tese de que a corrupção está entranhada no dia a dia dos brasileiros. Quem se dá ao trabalho de carregar dedos de silicone para trapacear o ponto eletrônico e encobrir faltas de colegas está praticando um ato tão condenável quanto o de um parlamentar que aceita propina para votar a favor de determinado projeto. Ambos estão enganando a sociedade a que deveriam servir, com o agravante de que profissionais da área da saúde têm compromisso com a vida. Se um paciente morrer por falta de atendimento decorrente da ausência de médicos que mandam dedos de silicone em seu lugar, de quem é a culpa?

Este não é o primeiro caso de fraudes envolvendo médicos. Recentemente, a polícia descobriu uma quadrilha que fraudava vestibulares de Medicina para garantir a aprovação de quem pagava para entrar na faculdade, tirando a vaga de estudantes honestos e dedicados. O esquema durou tanto tempo, que alguns dos vestibulandos que entraram em faculdades de Medicina pela porta dos fundos já são médicos. Qual é a ética de um médico que entra na universidade por meio de uma fraude?

De um profissional da área médica envolvido na venda de vagas na universidade, pode-se esperar tudo, inclusive que pratique abortos ilegais ou desligue os aparelhos de um paciente para abrir vaga na Unidade de Tratamento Intensivo.


ALIÁS - Se existem esquemas para fraudar o ponto biométrico, imagine-se o que ocorre Brasil afora nas repartições públicas em que a presença é atestada pelo chefe de um setor ou pela assinatura em um livro.

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