EDITORIAIS
Profissionais que optaram por atuar na área da saúde somente serão bem-sucedidos se tiverem a convicção de que se dedicam a um trabalho com particularidades inegociáveis. Uma destas é a de que todos os servidores, em especial os do setor público, devem ter a confiança dos que deles dependem para o atendimento de demandas muitas vezes decisivas para a sobrevivência. É por isso que, por piores que sejam as condições de trabalho e por mais justas que sejam as reivindicações, não há como apoiar greves em hospitais, como as que ocorrem no Rio Grande do Sul. No Grupo Hospitalar Conceição, o resultado mais visível até agora é o que denuncia o adiamento de 500 cirurgias eletivas.
Há paralisações também nos hospitais Cristo Redentor, do mesmo grupo do Conceição, e no Clínicas. Todos são imprescindíveis para que, funcionando normalmente, não sobrecarreguem outras instituições. Os transtornos, no entanto, vão muito além dos prejuízos, em alguns casos irreversíveis, de quem não foi operado na data marcada. Sofrem com as paralisações os doentes, seus familiares e eventuais acompanhantes. E amplia-se um desconforto que em nada contribui para a solução dos problemas apontados.
Trabalhadores da saúde pública se submetem há muito tempo ao estresse representado pela sobrecarga nas emergências, falta de leitos, equipamentos precários, filas para consultas de especialistas e de cirurgias. Além disso, queixam-se da baixa remuneração e dos excessos de jornadas extenuantes. A população que depende do SUS sabe de todos os problemas que conspiram contra a saúde pública e contra o seu direito de dispor de serviços previstos na Constituição. Mas são os pacientes, e não os funcionários da estrutura mantida pelo governo, as principais vítimas do descaso com a saúde pública. É alto demais o custo de greves que não oferecem compensações mínimas aos prejuízos provocados. A precariedade de alguns setores do SUS é uma das grandes vergonhas nacionais e expressa o desprezo pelos que dependem exclusivamente do que os governos lhes oferecem. Servidores não têm o direito de degradar ainda mais esses serviços.
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