domingo, 17 de outubro de 2010

SANEAMENTO - UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA

Saneamento: um problema de saúde pública, por Jorge Gerdau Johannpeter, empresário e presidente do Conselho de Administração da GERDAU

A histórica dificuldade do Estado em assumir suas responsabilidades impacta diariamente a vida de milhares de gaúchos. Essa dramática realidade está fundamentada em um tema que venho debatendo periodicamente: o baixo nível de investimento público, um problema vigente no Brasil como um todo. A falta de coleta e tratamento de esgoto sanitário é um caso emblemático. Todos os dias são despejados, nas principais cidades do país, 5,9 bilhões de litros de esgoto sem tratamento algum, prejudicando a saúde da população e contaminando o meio ambiente.

No Rio Grande do Sul, a situação é ainda pior, segundo dados do Instituto Trata Brasil e da Fundação Getulio Vargas (FGV). Apenas 19% da população do Estado tem acesso a esse serviço, sendo que a média nacional é de 50%. Ocupamos, portanto, o 16º lugar no ranking dos Estados brasileiros, atrás de Santa Catarina, Acre, Ceará e Amazonas, entre outros. Na cidade de Florianópolis, por exemplo, o percentual de perda de água tratada é de 18%, enquanto em Porto Alegre chega a 43%.

A existência de coleta e tratamento de esgoto adequados exerce um papel impressionante na vida das pessoas. Reduz a mortalidade infantil e a incidência de doenças na população em geral e, consequentemente, diminui o absenteísmo nas escolas, aumenta o aproveitamento em sala de aula e incrementa a produtividade no trabalho. Estudos da Organização Mundial da Saúde demonstram que, para cada real gasto com saneamento básico, é gerada uma economia de R$ 2,50 no sistema de saúde. Isso mostra que o investimento público na área não apenas envolve o aumento da qualidade de vida da população, mas também se traduz em uma lógica de gestão eficiente: quanto mais se aplica em saneamento, menos será gasto com tratamento médico no sistema público de saúde, liberando recursos para outras áreas prioritárias – como educação e segurança. Sob o ponto de vista econômico, a questão é extremamente importante. Se pensarmos que vidas são perdidas em razão da falta de saneamento, entretanto, o problema torna-se inaceitável.

Para oferecer acesso à coleta e ao tratamento de esgoto a 50% da população gaúcha, são necessários cerca de R$ 8,5 bilhões em investimentos, segundo estimativa da Agenda 2020, um movimento de distintos segmentos da sociedade gaúcha. Esse percentual, apesar de significar um grande desafio, é ainda inferior ao mínimo referenciado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), de 75%. Além disso, entendemos que eventualmente deva haver participação de capital privado para que se obtenha a melhoria nesse cenário.

Precisamos ter a consciência de que o aumento do investimento público não é apenas uma questão restrita a governos, mas que precisa ser debatida por todos. Infelizmente, as obras públicas de baixa visibilidade, como as de saneamento, não costumam popularizar governantes. Como diz o jargão popular, “enterrar canos não dá votos”. Mas isso é um grande equívoco. Ao investir em saneamento, quem ganha é a sociedade, beneficiada por uma política que amplie a qualidade de vida de todos.

jorge.gerdau@gerdau.com.br

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