sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

AS CORES DA URGÊNCIA

EDITORIAL ZERO HORA, 17/02/2011

No primeiro dia de funcionamento do novo sistema de triagem na emergência do Hospital Conceição, um dos maiores da rede pública em Porto Alegre, ficou constatado que metade dos pacientes poderia receber atendimento em postos de saúde. A aplicação do chamado Protocolo de Manchester, pelo qual cada paciente que busca tratamento passa pelo exame preliminar de um médico ou de um enfermeiro, recebendo uma pulseira colorida que determina a urgência do atendimento, mostra que a maioria poderia ter diagnósticos nas unidades de saúde dos bairros. Só que, para cada pessoa, o seu problema é o mais grave e o mais urgente. E não é novidade para ninguém que esses pacientes só procuram os grandes hospitais porque não encontram atendimento satisfatório nos postos de saúde. Muitas vezes, não encontram nem mesmo profissionais especializados, como mostrou reportagem publicada neste jornal na última quarta-feira. Bastou uma visita aleatória a cinco unidades localizadas na Vila Cruzeiro e no seu entorno para se constatar que em quatro delas sequer havia médicos.

Os hospitais fazem o que podem para prestar a assistência devida aos pacientes. A ordenação do atendimento por risco, que leva em conta a gravidade da doença e não a ordem de chegada, é uma medida inteligente e sensata. Mas não resolve o problema maior, que é a pronta prestação do serviço a todos os que se socorrem do sistema público de saúde. Como explicar a uma pessoa que está sofrendo que ela foi condenada a uma longa espera porque outros pacientes apresentam sintomas mais graves?

A organização do atendimento é bem-vinda, mas não pode ser confundida com solução. Enquanto o sistema de saúde pública não tiver um gerenciamento eficiente, que garanta a presença constante e permanente de médicos nos postos periféricos, oferecendo-lhes também boas condições de trabalho e os recursos necessários para prestar atendimento, as pulseiras coloridas servirão apenas para enfeitar a urgência – e não para reduzi-la a padrões civilizados e compatíveis com dignidade humana.

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