quinta-feira, 25 de outubro de 2012

FALTA DE MÉDICOS NA UPA

JORNAL DO COMERCIO 25/10/2012

Ministério da Saúde recebe denúncia de falta de médicos na UPA

Cláudia Rodrigues Barbosa


MARCO QUINTANA/JC

Apesar da carência clínica, folheto da UPA Zona Norte faz propaganda de quadro com 42 médicos

Representantes do Ministério da Saúde (MS) receberam ontem a denúncia da contínua falta de médicos na recém-inaugurada Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Zona Norte, na Capital. Médica do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) e vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Maria Rita de Assis Brasil, participou ontem de uma reunião no hospital e detalhou os problemas que a unidade vem enfrentando.

O encontro era para tratar da reforma na emergência do hospital. “A direção não gostou muito do que eu disse ao revelar que havia coisas embaixo do tapete que precisavam ser ditas. Ainda há falta de médicos na UPA, principalmente de clínicos”, afirma Maria Rita. Ela garante que dois colegas receberam proposta para trabalhar na UPA por seis meses como clínico-geral para depois serem “promovidos” a cirurgião, cargo para o qual foram admitidos em concurso público. “Quem tiver colocação melhor no concurso do que esses casos que citei como exemplo, pode recorrer judicialmente para obter a sua vaga de clínico-geral”, explica.

A assessoria da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) confirma que a gerência dos recursos humanos da UPA Zona Norte é responsabilidade do GHC. No entanto, a prefeitura justifica que assumiu o compromisso de suprir a carência de médicos nos finais de semana na unidade por ser parceira da mesma. Além disso, para que a UPA não deixe de funcionar, a prefeitura paga os profissionais por meio de um sistema de jornadas de 12 horas-extras, e não por plantões de mesma carga horária. “Os colegas dizem que a oferta é de pagamento de horas em dobro para quem aceita a empreitada”, complementa Maria Rita. Para a assessoria da SMS, as 12 horas-extras explicam a diferença entre o salário de um plantonista e de um médico que aceite trabalhar na UPA nessas condições.

No início de outubro, o secretário municipal de Saúde, Carlos Henrique Casartelli, em reunião com o superintendente do GHC, Carlos Eduardo Nery Paes, comprometeu-se a contratar dois médicos para o déficit de atendimento de 48 horas semanais, conforme análise do grupo. Maria Rita avalia que “esse gerúndio que não chega é um problema. Esse ‘estamos contratando’ e não contratar, não podemos aceitar”.

A assessoria da SMS lembra que no dia 16 de outubro, o secretário falou: “a Secretaria Municipal de Saúde entende a dificuldade na contratação de profissionais e já manifestou à direção do GHC o interesse em auxiliar na resolução das dificuldades enfrentadas pela instituição. Parceiros devem dialogar e decidir juntos”. Na ocasião ele acrescentou ainda que a data de inauguração da UPA, 28 de setembro, foi decidida em consenso entre a prefeitura de Porto Alegre, o GHC, o Ministério da Saúde e o governo do Estado.

Um dia depois, em 17 de outubro, a vice-presidente do Simers denunciou que a UPA foi aberta às pressas, sob pressão da prefeitura por conta das eleições. Robinson Amaral, gerente de pacientes externos do GHC, confirmou a declaração, contextualizando que a decisão do Executivo municipal contrariava o planejamento da instituição responsável pelos recursos humanos da unidade. E, por isso, os médicos que faltam no quadro ainda não tinham sido chamados. Maria Rita enfatiza que o GHC também não teve tempo hábil para treinar os profissionais para lidar com o sistema informatizado disponível na UPA.

Na terceira semana de outubro, matéria da SMS apresentava a UPA da seguinte forma: “A UPA dispõe de 32 médicos para assistência clínica”. No folheto de divulgação distribuído na unidade, a propaganda é de que 42 médicos formam o quadro clínico do pronto-atendimento. O coordenador da UPA não quis dar entrevista. A assessoria do GHC disse que não há falta de médicos.

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