sexta-feira, 27 de setembro de 2013

SOBRE DEMOCRACIA E SAÚDE, RESPEITO E VERDADE

JORNAL DO COMERCIO 27/09/2013


Mário Henrique Osanai


Após um longo silêncio, as ruas decidiram falar. E, com uma voz firme e afinada, pediram mudanças. Insatisfeitas e indignadas, cobraram ações dos gestores públicos. Mandaram seus recados ainda mais fortes contra a corrupção e o descaso. Nos gabinetes, jatinhos e helicópteros, o fenômeno foi percebido. Mas a interpretação foi distorcida. As pessoas foram convertidas em percentuais e estimativas. Os pleitos foram transformados em oportunidades para projetos de poder. A corrupção se excitou e estendeu seus braços. O abandono colocou uma máscara. E a democracia sangrou.

O cotidiano demonstra a carência das estruturas e de recursos humanos nos grandes centros. Os noticiários se repetem, mostrando pessoas morrendo ou fragilizadas ao extremo pela doença. E tudo se agrava pela gestão incompetente. Emergências lotadas, profissionais exaustos e recursos escassos. Ambulâncias e ônibus despejando vítimas da demagogia às portas dos hospitais. A omissão das autoridades públicas foi exposta. Nas reuniões de cúpula, carros blindados e palácios, o problema foi reconhecido. Mas as ações foram, como sempre, cenográficas. As mortes e sequelas foram atribuídas à falta de médicos. O caos foi transferido a uma única categoria profissional. O projeto eleitoreiro se encorpou e afiou suas garras. A mentira pintou o rosto. E a saúde agonizou.

Das gavetas, saíram projetos. E a MP 621/2013 surgiu, criando um curso de especialização, cujos alunos seriam a força de trabalho. Mas os estabelecimentos deficientes são os mesmos. Segundo a MP, o curso, oferecido por instituição pública de educação superior, garantiria tutores acadêmicos e supervisores. E a população carente teria mais assistência, humanidade e qualidade. Mais uma vez, a promessa veio envolta na falácia. E os alunos ficaram sozinhos. Alguns abandonaram e foram chamados de traidores. Outros foram abandonados à própria sorte. O dinheiro de estatais inundou espaços publicitários. Nos palanques e diretórios, as comemorações com as pesquisas. O povo continuou sofrido, doente e vulnerável. Exposto aos males da pior doença. E o respeito desapareceu.

E qual a verdade? O que será feito para combater a corrupção e a falcatrua? E por que as vítimas são sempre as mesmas? Já passou da hora de termos uma gestão competente, comprometida com a verdade e com o povo. Talvez, a solução seja o retorno da democracia.

Médico

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