domingo, 21 de junho de 2015

O SUS E A MÁ GESTÃO


ZERO HORA 21 de junho de 2015 | N° 18201


MARCELO MONTEIRO E MAURÍCIO TONETTO

SAÚDE TERMINAL. O SUS e a má gestão, por especialistas



A medicina denomina falência múltipla de órgãos os casos de morte causados por uma sequência de fatores desencadeados sucessivamente, culminando com o colapso do organismo. Segundo agentes envolvidos com a gestão da saúde consultados por ZH, uma série de problemas do passado e do presente ameaça o futuro dos hospitais que atendem pelo SUS (leia no quadro o jogo de empurra).

Para o presidente do Sindicato Médico do RS, Paulo de Argollo Mendes, uma chaga que atinge os hospitais é a falta de profissionalismo na gestão:

– Muito frequentemente, hospitais do Interior são geridos de maneira amadorística, sem administração qualificada, e isso, naturalmente, resulta em dificuldades – aponta Mendes.

Sérgio Freitas, sócio-diretor da Falconi Consultores – empresa que já trabalhou em hospitais como o Einstein, de São Paulo –, afirma que a preocupação com o profissionalismo em administrar instituições de saúde é um fenômeno recente no Brasil.

– Isso ainda é novo. E, às vezes, instituições menores sentem muito mais isso, sofrem mais com as dificuldades que encontram.

Segundo ele, uma razão para a crise em alguns hospitais está no porte das instituições. Na opinião de Freitas, unidades com menos de 40 leitos não são viáveis economicamente – uma vez que a estrutura básica a ser mantida exige a presença de um mínimo de profissionais de diversas áreas. Nos hospitais pequenos, no entanto, sem a possibilidade de otimizar a estrutura e garantir ganhos em escala, o surgimento de dificuldades financeiras é apenas questão de tempo.

– Em vários Estados e municípios, ter um hospital era visto como um sinônimo de boa atenção em saúde. No entanto, quando você cria hospitais deste porte, eles não têm escala para sobreviver.

Neste aspecto, a situação gaúcha torna-se particularmente grave. No Estado, segundo a Secretaria de Saúde, existem 188 instituições com menos de 50 leitos, incluindo filantrópicas, privadas e municipais.

A professora Lígia Bahia, do Laboratório de Saúde Pública da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra que outra falha envolvendo a gestão do SUS é a falta de planejamento para que o projeto, em teoria excelente, torne-se positivo à população.

– O SUS está no chão, infelizmente. Na realidade, ninguém fala em SUS. O governo federal cita alguns programas – Mais Médicos, Mais Especialidades –, mas o SUS não veio ao debate nas duas últimas eleições presidenciais. As questões são: quem será atendido? Quem paga? Como vai ser? Com que qualidade? Esse debate, desde que o SUS foi aprovado na Constituição, jamais foi pautado.

CONTRAPONTO

FRANCISCO FERRER, PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO DE SANTAS CASAS E HOSPITAIS FILANTRÓPICOS. Temos trabalhado, por meio da federação, com capacitação na área de gestão hospitalar. É raríssimo o hospital onde não se encontra um profissional graduado ou em caminhos de. Não concordo que exista problema de gestão à medida que, em uma relação extremamente deficitária, ninguém faz gestão. Ninguém faz gestão em uma relação de subfinanciamento.


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