quarta-feira, 20 de novembro de 2013

EMERGÊNCIA E UPAS ARTIGOS

ZERO HORA 20 de novembro de 2013 | N° 17620

ARTIGOS

César Augusto Trinta Weber*



O editorial de ZH intitulado Conspiração contra a Saúde retratou o caos na saúde pública ao trazer a realidade do descaso dos administradores públicos e da leniência da burocracia estatal com o exemplo das UPAs, que foram construídas em municípios gaúchos e que se encontram fechadas por falta de infraestrutura, depois de inauguradas.

Criadas pelo governo federal como remédio do tipo elixir, pelos supostos efeitos miraculosos, as UPAs seriam a solução mágica para o problema crônico da superlotação nas emergências. Nos casos de emergência, os primeiros momentos são decisivos para a recuperação do paciente, o que significa dizer que o acesso imediato ao tratamento médico é uma necessidade que se impõe para se evitarem sequelas ou a própria morte.

Em uma análise reduzida dessa questão da superlotação nas emergências, tal fenômeno pode ser explicado, pelo menos, sob dois aspectos maiores, ambos que denunciam o malogro do sistema de saúde. O primeiro aspecto é aquele que revela, de fato, que o agravo de saúde do cidadão que busca acessar a UPA é um caso de emergência médica e, portanto, que necessita, realmente, de um equipamento de saúde com capacidade instalada para esse nível de complexidade de atenção, que funcione 24 horas e esteja, assim, preparado para atender à gravidade desses casos, como requer esse tipo de situação.

O segundo é o inverso do primeiro. É quando o usuário que procura a emergência o faz não pela gravidade do seu caso de saúde, mas porque não consegue ter no posto de saúde o atendimento esperado. Esse atendimento que poderia e deveria ser feito na rede básica de saúde não o é porque as pessoas, quando conseguem “ficha” para chegar à unidade de saúde, não obtêm uma resolução ao seu problema.

Em ambas as situações, a desordem do sistema de saúde se clarifica. Na primeira situação, o problema de superlotação nas emergências não será resolvido pela premissa única de que o “desafogo” se dará somente por UPAs funcionando. O paciente grave atendido na emergência, para ter “alta”, precisa que leitos hospitalares existam em número suficiente, o que não há! Estando disponíveis esses leitos, o fluxo de entrada e saída nas emergências tenderá a uma estabilidade como se fosse uma propriedade autorreguladora do sistema.

Na segunda, a maneira pela qual se impede que as pessoas recorram às emergências quando não precisam e garantir que elas tenham resolvidas as suas necessidades de saúde na rede de cuidados básicos. Para isso, é preciso que a assistência primária esteja organizada de uma maneira que a cobertura pelas equipes de saúde da família seja efetiva e essas em pleno funcionamento. E mais, que a capacidade resolutiva dessas unidades se mostre adequada uma vez que é sabido que devem ser capazes de solucionar ao redor de 90% dos casos sob sua responsabilidade.

A falta de planejamento para fazer com que o SUS possa consolidar os avanços de ser a assistência à saúde de qualidade um direito universal é um dos reflexos direto do despreparo dos gestores e do descompromisso desses com a população.

*Médico

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