quinta-feira, 11 de abril de 2013

O CALVÁRIO DOS ENFERMOS

ZERO HORA - 11 de abril de 2013 | N° 17399

EDITORIAIS


Tornaram-se cada vez mais frequentes os dramas enfrentados por cidadãos a quem os governos sonegam o direito de acesso aos recursos da saúde pública. É a banalização de um mal que contribui para a morte de pessoas em filas de emergências, de consultas especializadas, de cirurgias ou de uma vaga num hospital. A mais recente tragédia familiar, mostrada ontem por Zero Hora, teve como protagonistas um pai e um filho que percorreram os labirintos da estrutura hospitalar de Porto Alegre, até fracassarem na busca por leito em uma instituição habilitada a aplacar um sofrimento. O filho que morreu sem assistência é mais uma vítima da degradação do Sistema Único de Saúde, provocada por um conjunto de fatores compartilhados por União, Estados e municípios.

Uma tentativa de explicação apressada poderia atribuir aos hospitais a culpa por não terem socorrido o homem que enfrentava uma doença em estágio terminal. Os hospitais, sobrecarregados, são a ponta frágil de um sistema abalado não só por falta de recursos, mas por deficiências de gestão e também por corrupção. O que ocorre no setor é decorrência do descaso que começa com a insuficiente dotação de verbas federais. Na sequência, agregam-se às causas do descaso a não inclusão da saúde entre as reais prioridades de governadores e prefeitos. Falham, em conjunto, todos os entes que, por obrigação prevista pela Constituição, deveriam ser parceiros solidários no suporte de todas as etapas da assistência integral à saúde.

O que se vê, ao contrário, é a transferência de responsabilidades, com o agravamento de um quadro há muito tempo desalentador. O cidadão que morreu no domingo sucumbiu ao calvário a que milhares de brasileiros já se submeteram e que outros tantos terão de enfrentar, enquanto a saúde pública fracassar por incompetência das políticas públicas. Com a demora na implantação das redes de pronto atendimento, os hospitais continuarão superlotados e sem condições de pelo menos assegurar aos segurados um final de vida digno.

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