quinta-feira, 23 de junho de 2011

DESCASO - DOIS ANOS FECHADO À ESPERA DE OBRAS E PACIENTES


Citado pelas autoridades como alternativa à falta de leitos, Hospital Independência terá de passar por restauração completa - HUMBERTO TREZZI, ZERO HORA 23/06/2011

Lúgubre, úmido, alagado e parcialmente espoliado dos seus melhores equipamentos. Assim está o Hospital Independência, um lugar que já foi referência em atendimento a acidentados em Porto Alegre e é anunciado como uma esperança de novos leitos para os atuais hospitais superlotados.

Fechado em abril de 2009 por determinação da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), ele foi penhorado para pagamento de dívidas bilionárias da universidade com o governo federal. Desde então se sucedem promessas de que será reaberto, sempre adiadas.

Nomeada fiel depositária do Independência, a prefeitura da Capital tenta cumprir a meta de reabrir o hospital este ano. Uma licitação está em andamento e ontem terminou a fase de recursos dos candidatos a reabrir a unidade hospitalar. Existem dois interessados, e a perspectiva é de que até o final de julho seja anunciado o vencedor. Começará então a etapa mais difícil, a restauração do prédio, situado na Avenida Antonio de Carvalho, na Zona Leste.

A má impressão começa por fora. Foram apenas dois anos fechado, mas a frente do prédio está parcialmente tomada por mato. Montes de lixo e de dejetos se acumulam nos pátios e terrenos baldios internos.

O piso está levantado e precisa ser trocado. A chuva penetrou pelo teto e forro, alagando dois dos três andares do hospital. A pintura das paredes, em algumas partes, está rachada e ondulada, precisando ser refeita.

Camadas de poeira cobrem a mobília e os equipamentos, como se uma tempestade de areia tivesse varrido a parte interna do hospital. No meio de uma sala do segundo andar, uma pintura de Jesus Cristo, jogada de cabeça para baixo no saguão, retrata o abandono.

O que mais dará trabalho aos novos donos do hospital será o conserto de equipamentos. Aparelhos de Raio X e tomógrafos estão parcialmente sucateados.

– É perceptível que foram desmontados e a parte mais cara deles, os tubos, foi levada para algum lugar – descreve o subsecretário municipal de Saúde, Marcelo Bosio, encarregado de levar adiante a licitação.

Ele não sabe dizer se isso foi autorizado. Máquinas de diálise e respiradores da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) também precisam de restauro.

Patrimônio de R$ 15 milhões

Em setembro de 2010, o então secretário nacional de Atenção à Saúde, Alberto Beltrame, anunciou: o Hospital Independência reabre em um mês. Em fevereiro de 2011, foi a vez do prefeito José Fortunati prever: até junho o Independência deve ser reaberto.

Junho chegou, está no fim e o Independência está sucateado. Mas o subsecretário municipal de Saúde, Marcelo Bosio, promete: no segundo semestre o hospital será devolvido à população. Nem que seja com parte dos cem leitos previstos.

Dois grupos da área de saúde se apresentaram como candidatos a assumir o Independência. Um deles é o Divina Providência, que mantém um hospital na zona sul de Porto Alegre. O outro é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) com atuação no Vale do Sinos. Não foram divulgados valores, até para não atrapalhar o negócio. Mas Zero Hora apurou que, conforme avaliação encomendada pela Justiça, o Independência vale no mínimo R$ 15 milhões.

A licitação é para cedência de uso do imóvel, ficando o vencedor responsável pela limpeza e reaparelhamento do hospital. A perspectiva é de que o Independência continue especializado no tratamento de fraturas, mas com parte dos leitos também reservada para clínica geral.

Contrapontos

O que diz a assessoria de imprensa da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra)- “Parte dos equipamentos foi recambiada para o Hospital Universitário da Ulbra, assim que o ex-reitor determinou o fechamento dos hospitais Independência e do Luterano. Eram máquinas pertencentes à universidade e não há irregularidade nisso. Foi feito assim para evitar depreciação do patrimônio. O fechamento dos hospitais foi determinado pelo ex-reitor Rubem Becker para enfrentar uma crise financeira. Depois disso, o local foi visitado por grupos interessados em fazer parceria e a situação era de conhecimento das secretarias de Saúde de Porto Alegre e do Estado. Quando a União assumiu o controle do hospital, a Ulbra não mais teve ingerência.”

O que diz Geraldo Moreira, advogado do ex-reitor da Ulbra Rubem Becker - “Quem fechou o Hospital Independência foi a atual reitoria. Alegaram que os hospitais eram desvio da função principal da universidade, que é educar. O Rubem Becker não foi julgado, não tem o que comentar sobre isso”.

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