quarta-feira, 15 de junho de 2011

DESCULPE, DR. GOOGLE!


A marca registrada desta virada de século é a desconcertante riqueza de informações que a internet e as redes sociais despejam indiscriminadamente sobre cabeças nem sempre preparadas para recebê-las.

Como ninguém se arriscaria a propor qualquer tipo de cerceamento cultural a uma população deslumbrada pela orgia midiática, resta-nos conviver com alguns constrangimentos e esperar que o tempo amenize esta necessidade irrefreável de alardear que se sabe muito, mesmo que o aprendizado tenha a profundidade de uma poça d’água.

Numa sociedade marcada pela superficialidade das relações, dar a entender que se sabe passou a ser tão importante quanto de fato saber.

Como a informação é a mais eficiente arma moderna de conquista, a internet se tornou o frenesi de uma geração preocupada em vender uma imagem cultural esfarrapada, porque muitas vezes construída sobre o terreno movediço dos cursos supletivos.

Os consultórios médicos estão repletos de autodidatas que anunciam que consultaram o Dr. Google com a mesma soberba que antigamente alguém referia que tinha feito residência médica no Mass General Hospital em Boston.

E como a meia ciência é mais difícil de manejar do que a ignorância completa, ninguém sabe bem o que fazer com eles.

Alguns, convencidos de que os dados clínicos obtidos na sua pesquisa desbaratada não significam nada de grave, trazem um olhar desafiador de quem espera apenas que o médico não ouse contrariar suas expectativas.

Outros, apavorados com a possibilidade de câncer captada numa interpretação leiga de informações técnicas, cujo significado não tem a menor possibilidade de ser elaborado por cérebros amadores, carregam um misto de desespero e arrependimento pela intromissão numa ciên-cia que, além de desconhecida, ainda pode trazer tanta notícia ruim!

Se por um lado a voracidade de informações é louvável, por outro ela expressa uma incerteza que transcende a simples curiosidade.

O sistema de saúde, que despersonaliza a relação médico-paciente, na medida em que o enfermo é tratado como um reles consumidor e o médico está escondido atrás dos biombos institucionais, só tem feito aumentar esta insegurança.

O que o leigo travestido de investigador de suas próprias moléstias não tem ideia é de como a atividade médica se apoia em dados subjetivos e em elementos clínicos menos confiáveis do que gostaríamos.

E se tivesse a mínima noção da complexidade envolvida num determinado juízo diagnóstico, provavelmente morreria de vergonha de se expor a uma situação para a qual não tem a menor habilidade ou treinamento.

O que os curiosos poderiam presumir é que como o erro é inerente a qualquer atividade humana, também os médicos estão expostos a juízos equivocados, porque trabalham com uma ciência inexata, para o desempenho da qual estão sujeitos a variáveis inconstantes como perspicácia, experiência, sagacidade e até cansaço.

Não existe médico tão bom que não erre nunca, e, por mais sofisticada que seja a tecnologia disponível, sempre prevalecerá a necessidade de que neurônios treinados elaborem as informações e deem um destino racional aos resultados obtidos.
evitar que seu erro seja irreparável, mas nunca conta nas suas escolhas com o apoio
O bom médico tenta não errar e quando percebe que isso ocorreu, faz o possível para do Dr. Google, esse novo colega virtual, que, por mais famoso e bem-intencionado que seja, não contém na sua bagagem artificial os indispensáveis atributos de inteligência, sensibilidade e bom senso!

JOSÉ J. CAMARGO, PROFESSOR UNIVERSITÁRIO E MEMBRO DA ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA - ZERO HORA 15/06/2011

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É verdade, nada substitui um bom médico e sua anamnese. Nada substitui a relação e o contato pessoal de médico e paciente, diante da frieza de um texto que relata uma "suposta" doença. Entretanto, seria bom fazerem uma análise dos motivos que levam as pessoas a evitar o consultório médico, já que o atendimento no setor público é muito lento e no privado muito caro. Diante destas dificuldades, entra o Dr. Google e sua riqueza de informações e orientação frias e distantes da boa e útil anamnese.

ANAMNESE (do grego ana, trazer de novo e mnesis, memória) é uma entrevista realizada pelo profissional de saúde ao seu paciente, que tem a intenção de ser um ponto inicial no diagnóstico de uma doença. Em outras palavras, é uma entrevista que busca relembrar todos os fatos que se relacionam com a doença e à pessoa doente. Uma anamnese, como qualquer outro tipo de entrevista, possui formas ou técnicas corretas de serem aplicadas. Ao seguir as técnicas pode-se aproveitar ao máximo o tempo disponível para o atendimento, o que produz um diagnóstico seguro e um tratamento correto. Sabe-se hoje que a anamnese, quando bem conduzida, é responsável por 85% do diagnóstico na clínica médica, liberando 10% para o exame clínico (físico) e apenas 5% para os exames laboratoriais ou complementares. Após a anamnese é realizado o exame físico, onde se procuram os sinais e sintomas da doença.(Wikipédia)

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