segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

DESAFIO NÚMERO 1


EDITORIAL ZERO HORA 16/01/2012


Está à disposição do governo a avaliação que a população faz do sistema de saúde pública. O resultado é constrangedor e comprova que, quase 24 anos depois da universalização da saúde no Brasil, a estrutura do setor ainda é considerada precária. O pior é que, para 43% dos entrevistados pelo Ibope, em levantamento encomendado pela Confederação Nacional da Indústria, os serviços tiveram queda de qualidade nos últimos três anos. A realidade, para a grande maioria que depende do atendimento público, é uma contradição em relação às prioridades alardeadas pelo atual governo e por seu antecessor. A atenção às demandas sociais, declaradas urgentes, passou longe de postos de saúde e das longas filas de quem espera nas emergências por um médico, por um leito ou por um exame.

A pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira – Saúde Pública aponta onde estão as maiores deficiências, mesmo que essas possam parecer óbvias. Há uma queixa generalizada em relação à demora no atendimento, apontada por 55% dos entrevistados como o maior problema do Sistema Único de Saúde, e a certeza de que faltam equipamentos e médicos na rede pública. O estudo contém uma advertência: a hipótese de criação de um novo imposto, que reprise a extinta CPMF, é rejeitada por 96% dos usuários do sistema. Mesmo que a possibilidade de retorno de uma contribuição compulsória tenha sido afastada no ano passado, a conclusão vale como alerta de que outras tentativas serão repelidas pela população.

O interessante é que a maioria dos ouvidos tem a mesma percepção de especialistas, que insistem na necessidade de aprimoramento da gestão do setor, e não só no aumento de recursos. Esse entendimento está claro em dois dados: para 53%, é preciso reduzir desperdícios, e somente 18% acreditam na necessidade de transferir recursos de outras áreas para o setor. O SUS atende a mais de 145 milhões de pessoas e tem o mérito de ser um sistema tão amplo, que é capaz de tratar da prevenção ao transplante de órgãos. Mas falha no que teria de oferecer de mais elementar, com emergências lotadas e longas esperas por leitos e consultas especializadas. É por isso que 61% dos pesquisados pelo Ibope consideram essa estrutura ruim ou péssima, uma avaliação implacável para um serviço essencial e que ainda tenta se preservar como modelo para outros países. A nota média obtida pelo SUS ficou em 5,7, numa escala de zero a 10.

Merece destaque o entendimento que a população tem do direito de todos à saúde pública, com 95% concordando que o governo deve assegurar assistência gratuita. Mas é preocupante e ao mesmo tempo paradoxal a noção de 68%, segundo os quais é injusto que todos paguem pela manutenção da rede pública, independentemente do uso que fazem dessa estrutura. O SUS é uma das mais expressivas conquistas da cidadania, asseguradas pela Constituição de 1988. Deve ser mantido por todos os brasileiros e aperfeiçoado. Há, por parte do governo, a promessa de que as hospitalizações serão reduzidas com os investimentos nas Unidades de Pronto Atendimento, que poderiam dar resposta a até 97% das demandas dos usuários. As UPAs são importantes, mas não têm o poder de resolver todos os problemas do SUS apontados pelos que padecem em suas filas.

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