O tratamento desumano enfrentado por pacientes em emergências nas quais a superlotação é rotineira em hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na Capital, exposta em reportagem publicada ontem pelo Diário Gaúcho, é motivo de vergonha para o Estado. As fotos mostrando pacientes vencidos pelo sono em assentos desconfortáveis na expectativa de serem atendidos, ou vendo o tempo passar sobre cadeiras de rodas, revelam o desespero e o desalento de quem busca apenas se livrar da dor e tratar alguma enfermidade. Por isso, deveriam se constituir também em motivo de mobilização das autoridades de saúde e de lideranças políticas para atenuar o sofrimento de pessoas que passam dias e noites esperando por atendimento médico, como se estivessem numa situação de calamidade semelhante à das vítimas de catástrofes.
Como definiu uma das enfermas – que aos 67 anos, depois de um derrame, se movimenta com a ajuda de muleta e hoje sofre de diabetes e pressão alta –, a situação enfrentada é a própria “espera da morte para quem não quer morrer”. Depois de ingressar na sala de acolhimento, a mesma paciente esperou simplesmente sete horas e meia para conseguir acesso à área na qual ficam os pacientes à espera de internação – processo que pode demorar até quatro dias. O agravante é que pacientes nessa situação costumam conviver com a dor e com a deterioração do quadro clínico até, finalmente, serem atendidos.
A responsabilidade, no caso, não pode ser atribuída aos próprios hospitais, muito menos aos profissionais responsáveis pelo atendimento. Mas se 75% dos que estão na fila poderiam ser atendidos em postos de saúde, como mostram as pesquisas, a solução, obviamente, exige muito mais que apenas fitas de diferentes cores no pulso, de acordo com a gravidade do caso.
Na Capital ou em cidades do Interior, esse é um problema crônico que precisa ser enfrentado de imediato. Não há saídas mágicas, apenas as óbvias: os administradores municipais precisam garantir mais postos de saúde e mais leitos nos hospitais, única maneira de conseguir reduzir e até mesmo acabar com toda essa indignidade.
EDITORIAL ZERO HORA 17/03/2011
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