Antônio Mesquita Galvão, Escritor, filósofo e doutor em Teologia Moral, ZERO HORA 06/03/2011
O que eu vou dizer aqui não foi tirado a esmo da cartola do absurdo, mas faz parte de um conjunto lógico e pragmático de observações. Vou falar sobre automedicação.
Desde criança escuto dizer que “de médico, poeta e louco cada um tem um pouco”. Verdade? Mentira? Não sei, mas é bem parecido... Hoje, em face das multidisciplinaridades que existem, sempre surgem os sabichões que pensam saber tudo de todas as coisas. Deste modo, não raro, se escutam leigos de todos os lados, querendo discutir com especialistas e graduados, dando pareceres sobre engenharia, administração, economia, teologia, direito, medicina, filosofia e demais ciências.
Sobre essas tentativas de – como diziam os filósofos – “o sapateiro ir além das chinelas”, coisa chata são certos leigos querendo dar palpites – em geral furados – fora de sua limitada área de competência. Eu que não me considero um mero palpiteiro, mas um filósofo a serviço da comunicação, faço meus comentários.
Esse introito é para ingressar no assunto da automedicação. Ela existe, com todos os seus riscos, no mundo inteiro. Na Itália fui à farmácia procurar um descongestionante intestinal. Me venderam dois remédios que resolveram. Na Grécia, estava com febre, o pessoal da recepção me deu uns comprimidos e no dia seguinte eu já estava na piscina. Minha mulher comprou Neurontin (tarja preta no Brasil), no aeroporto de Paris, sem receita.
Em casa eu tenho a minha farmácia doméstica de automedicação para diarreia, intestino preso, coriza, febre, queimaduras, má digestão, dores de ouvido, de garganta, de cabeça, conjuntivite etc. Os remédios que os laboratórios anunciam na tevê são a indução para você comprar na farmácia, sem receita médica. As campanhas contra a automedicação são em parte válidas, dados os riscos de ingestão de algo indevido. Mas de outro lado, esse legalismo contra a automedicação esbarra em questões reais e indiscutíveis. Uma parte favorece os cuidados com a saúde pública. De outro, um incremento corporativista às consultas médicas.
Vamos à prática. Estou com dor de cabeça. Ou vou à farmácia e compro aspirinas ou vou ao médico. No posto de saúde nunca atendem no mesmo dia. No SUS leva 15 dias, ou mais. Mesmo nos sofisticados convênios, a consulta será para dois ou três dias depois. Se for derrame, estarei derramado. Se for algo simples, como em geral é, duas aspirinas em meio copo d’água resolvem. É por isto que as pessoas se automedicam...
Se persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado. Sem pressa, pois as emergências no Brasil não funcionam.
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