sábado, 16 de junho de 2012

UM CÂNCER DEVASTADOR

DANIELA SANTAROSA E LARA ELY
ZERO HORA, 16 de junho de 2012

Gaúchos são os que mais morrem da doença, intimamente ligada ao fumo


O câncer de pulmão mata pelo menos 2.843 pessoas por ano, entre homens e mulheres, no Rio Grande do Sul. O número (registrado pelo Ministério da Saúde em 2009) é 40,4% maior do que de mortes causadas por acidente de trânsito (2.025, em 2011) e 71,5% maior do que de homicídios (1.657, também no ano passado).

No mundo, as estatísticas são ainda mais alarmantes. Por dia, o equivalente a toda a população de Porto Alegre – cerca de 1 milhão e meio de pessoas – perdem a vida pelo mesmo motivo.

O Rio Grande do Sul lidera o ranking brasileiro de casos, sendo o estado com maior números de mortes – 23 por cada cada 100 mil habitantes.

O oncopneumologista Guilherme Costa, coordenador da Comissão de Câncer de Pulmão da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) afirma que uma das prováveis causas para os altos índices seja o clima frio da região sulista.

– Em baixas temperaturas, é comum que as pessoas procurem formas de se aquecer, e o fumo é uma delas – diz o especialista.

O presidente da Fundação Sul-Americana para o Desenvolvimento de Novos Medicamentos Contra o Câncer e vice-presidente da Sociedade Latino-Americana de Cancerologia, Gilberto Schwartsmann, concorda que a relação com o fumo é responsável pela esmagadora maioria dos casos diagnosticados, e que há um forte apelo da indústria tabagista para banir as campanhas de conscientização.

– A indústria do tabaco faz um forte lobby e subsidia uma série de ações em Brasília para neutralizar as campanhas – afirma.

Considerada rara no início do século vinte, a doença tornou-se um grave problema de saúde pública nos últimos 50 anos. O impacto é tanto que leva o estado brasileiro a investir, por ano, quase R$ 21 bilhões. A conclusão é da pesquisadora Márcia Pinto, da Fiocruz, que fez um estudo mapeando os custos de doença relacionadas ao tabaco. A pesquisadora explica que esse valor é financiado pela sociedade, com o pagamento de seus impostos:

– Esses custos são financiados por quem fuma e quem não fuma. Esse valor poderia ser investido, por exemplo, na ampliação do acesso das crianças a vacinas ou na compra de quimioterápicos para o SUS.

Como o estudo é pioneiro no país, não há comparativo local para saber se o valor é elevado demais. Sabe-se apenas que, em países como China e Estados Unidos, os investimentos são próximos a US$ 30 bilhões por ano.

Impacto na saúde e na economia

A expectativa da pesquisadora é de que o governo possa dar seguimento à pesquisa e invista na atualização dos dados. Outra proposta é incluir na próxima pesquisa os custos indiretos do tabagismo, relativos à perda da produtividade do fumante ou ex-fumante no mercado de trabalho.

– O fumante que se aposenta precocemente, ou sai do mercado, ou deixa de produzir riqueza para o país – explica Márcia.

A pesquisadora também concorda que a forte presença da indústria do tabaco no Rio Grande do Sul pode ter influência na adoção de medidas de controle anti-tabagismo. Porém, apesar das estatísticas negativas, é preciso considerar o fato de que, com as medidas de controle como a proibição de publicidade na televisão e no verso das carteiras de cigarro, bem como a restrição do fumo em locais fechado, fez cair o número de fumantes no Brasil.

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), nos anos 80, 32% dos adultos fumavam, e em 2007, esse número caiu para 17%. A expectativa é que a cada ano baixe 0,3% o numero de fumantes.

– Isso vai fazer que tenha uma redução importante nos casos de câncer de pulmão, se as pessoas continuarem aderindo as campanhas – alerta Schwartsmann.


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