sexta-feira, 29 de junho de 2012

POVO TRATADO COMO GADO


BEATRIZ FAGUNDES, O SUL

Porto Alegre, Sexta-feira, 29 de Junho de 2012.

 CRISE NA SAÚDE


O povo tradicionalmente é tratado como gado, devendo permanecer ordeiro de cabeça baixa enquanto espera o cumprimento da constituição cidadã! Bater nos médicos, esmurrar enfermeiros, nocautear guardas, quebrar guichês ou arrebentar portas não produzirá qualquer efeito, pois a violência não se encerra no atendimento de ponta.

Toda crise tem um desfecho. Algumas com soluções inteligentes, a maioria, em um mergulho na violência. O caso da saúde está próximo deste desfecho inevitável. A população está chegando ao seu limite. Os responsáveis empenhados aparentemente apenas em garantir seu sucesso individual nas próximas eleições continuam "empurrando com a barriga" a crise, alegando falta de verbas para aplicação direta na saúde. Afirmam que não existe verba e passam para próximos temas enquanto levantam copos comemorando alguma vitória de Pirro, normalmente em áreas de fácil administração.

Nos últimos dias, eleitores desesperados ameaçaram a integridade física de profissionais da saúde que trabalham no fio da navalha. Houve até depredação de patrimônio público e, naquele caso, o Estado agiu rápido enquadrando nos rigores da lei a ousada cidadã que perdeu o controle depois de 12 horas de espera. Ok! Todos concordam que a violência não resolverá o problema, e que a lei deve ser respeitada. Porém, só posso escrever isso se não considerar violência contra os brasileiros o tratamento desumano de milhares de doentes que são humilhados nas portas de postos de saúde fechados, sem médico, sem remédios, ou nas emergências dos hospitais públicos.

O povo tradicionalmente é tratado como gado, devendo permanecer ordeiro de cabeça baixa enquanto espera o cumprimento da constituição cidadã! Bater nos médicos, esmurrar enfermeiros, nocautear guardas, quebrar guichês ou arrebentar portas não produzirá qualquer efeito, pois a violência não se encerra no atendimento de ponta. Não! Ela começa nos corredores dos palácios de Poder. Pois ontem, para aprofundar a crise, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) divulgou o índice máximo de 7,93% para o reajuste anual dos planos de saúde individuais, que atinge cerca de 8 milhões de contratos. O índice de reajuste autorizado pela ANS pode ser aplicado somente a partir da data de aniversário de cada contrato, com a permissão de cobrança do valor retroativo caso a defasagem seja de no máximo quatro meses. Quantos destes 8 milhões de contratos desaparecerão por falta de condições econômicas dos usuários? Naturalmente, órfãos do plano de saúde engrossarão as filas dos atendimentos do SUS (Sistema Único de Saúde).

Convém admitir que o atendimento nos hospitais conveniados com os planos de saúde há muito deixa a desejar pela qualidade e o tempo de espera. Uma consulta demora semanas, e, nas emergências, nem sempre o atendimento dos segurados é preferencial, perdendo para os clientes com dinheiro vivo. Como reagirá o Estado se a gripe H1N1 atingir milhares de pacientes? Até o momento, das 563 suspeitas de gripe A, 67 foram confirmadas, com dez evoluindo para óbito, 369 foram descartados e 127 seguem em investigação. Se for dada prioridade para infectados pelo vírus, para onde irão os atingidos pela gripe comum que também costuma matar? Os políticos empenhados em suas carreiras estão brincando com fogo! Toda a crise tem um desfecho imprevisível! A próxima vítima pode ser você!

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