sexta-feira, 18 de outubro de 2013

ME FALE O QUE ESTÁ SENTINDO, DOUTOR!

ZERO HORA 18 de outubro de 2013 | N° 17587

ARTIGOS

Stephen Stefani*



Médicos devem ser objetivos, racionais, capazes de ouvir e captar pontos relevantes para decifrar diagnósticos, e talentosos em comunicação, com empatia e carinho para contribuir para busca de soluções. A expectativa de um profissional humano (convenhamos... é o mínimo) e bem treinado, entretanto, já não é o suficiente. Atualmente se espera, no mínimo, uma pessoa que também seja disponível, com responsabilidade social e orçamentária.

A dicotomia reducionista de que o médico ou é um especialista atualizado e afastado das dificuldades do país, ou é um generalista sensível e engajado nos problemas sociais é de uma simplicidade grosseira e cria personagens para uso político e partidário. A mão no ombro é, realmente, muitas vezes (ou até sempre) fundamental, mas não substitui as outras necessidades. Uma coisa não exclui a outra. O médico versão 2.0 precisa estar conectado com o paciente e com o mundo. Muitas pessoas, de todas as classes sociais, chegam ao consultório após consultar o Dr. Google e cabe ao médico traduzir o que tem sentido naquela infinidade de informações digitais pouco críticas.

Agilidade na comunicação é outra prerrogativa fundamental. Telefones celulares, e-mails e redes sociais passaram a ser valiosos nesse sentido. Uma resposta rápida e eficiente pode salvar vidas, em uma guerra que não tem trégua.

No seu livro What Doctors Feel (traduzindo para algo como “O que o médico sente”), Dra. Danielle Ofri dissecou respostas emotivas ocultas dos doutores e como isso influencia os pacientes. Esse estresse da vida com jaleco – burocracias, estudos por horas, sobrecarga em plantões e momento de enfrentamento de mortes e tristezas – gera desdobramentos pessoais, familiares e profissionais para o médico. As angústias de compartilhar as dificuldade imensas do sistema de saúde criam, muitas vezes, profissionais que adotam mecanismos de defesa rústicos e ineficientes e acabam se afastando do objetivo principal que é entender o paciente e tentar ajudar com todas as ferramentas disponíveis.

Um olhar para esse lado emocional da medicina – incluindo medo, ansiedade, determinação, alegria – é fundamental. Todos esses sentimentos e a resposta emocional do profissional da saúde aos dramas de vida e morte têm profundo impacto no atendimento aos doentes. Pouco se debate sobre qual o sentimento desse operador de um sistema pesado e insuficiente. Pode funcionar melhor se houver alegria e orgulho no que se faz. É o único combustível que move o sistema, tão cheio de falhas.

Neste dia do médico, se algum profissional teve privilégio de entrar na sua história, mande um e-mail, torpedo, ou uma ligação mencionando isso. Renovando lembranças de que se pode ajudar alguém é que se resgata o melhor que um médico pode ter e, de alguma forma, se consegue o melhor para os pacientes.


*MÉDICO ONCOLOGISTA

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