quarta-feira, 16 de outubro de 2013

RECEITA DE ARGENTINO É ALVO DE CRÍTICAS


ZERO HORA 16 de outubro de 2013 | N° 17585

LETÍCIA COSTA* | TRAMANDAÍ

CONTROVÉRSIA NO MAIS MÉDICOS

Prescrição com dose de antibiótico acima da usual aplicada por estrangeiro que atua em Tramandaí foi disseminada na web



Na mira das entidades de classe e sob avaliação diária dos pacientes, o Mais Médicos enfrenta um novo e controverso capítulo. A prescrição de um antibiótico com dose acima da usual, assinada por um argentino que desde o começo do mês atende em Tramandaí, recebeu críticas na internet e serviu para colocar em dúvida a qualidade de formação dos estrangeiros.

Ao aconselhar o paciente a tomar três comprimidos diários de 500 mg de Azitromicina (antibiótico para tratamento de infecções respiratórias), em vez de uma unidade ao dia, como é de praxe dos médicos, o argentino Juan Pablo Cazajus, 50 anos, que há 11 dias trabalha na Unidade de Saúde da Zona Sul, no bairro Nova Tramandaí, tomou uma atitude contestada por colegas de profissão.

Considerada desde uma dose incomum até um erro grave, a prescrição gerou debate. Uma usuária do Twitter divulgou a receita em sua conta e questionou o possível exagero do profissional que não fez o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos, o Revalida. A exclusão da exigência da prova para participação no programa federal norteou as primeiras críticas de entidades brasileiras.

Com a pressão pelos usuários da rede social, o Ministério da Saúde divulgou um esclarecimento e providenciou que um “supervisor vinculado ao programa fosse encaminhado ao local para acompanhar e avaliar a atuação do profissional”. Único profissional do Mais Médicos na cidade, o argentino formado na Universidade de Buenos Aires teve de dar explicações.

Aprovado pela maioria dos pacientes que estavam ontem no posto de saúde, o argentino acredita que esteja sendo alvo da insatisfação de algumas pessoas com o programa do governo.

*Colaboraram Cândida Hansen e Mauricio Tonetto


“Me excedi na dose”

No começo da tarde de ontem, quando chegava ao posto de saúde para atender uma fila de pacientes que já somava quase 20 pessoas, o médico argentino Juan Pablo Cazajus falou com ZH. Ele reconheceu que exagerou na dosagem, mas justificou que a receita estava de acordo com as condições de saúde do paciente. Fumante, o idoso atendido duas vezes na semana passada tinha falta de ar. A identidade do homem foi preservada.

– Era um paciente complicado, que aparentava não tomar medicação. Me excedi na dose, mas foi pelas características do paciente. Era a única opção que tinha – explica Cazajus.

Conforme o médico, o raio X apresentou infecção pulmonar leve. Cazajus disse que entrou em contato com a farmácia do SUS em busca de medicamento. Com a informação de que só havia disponível Azitromicina, indicou que o homem tomasse uma dose de oito em oito horas por dois dias. Ele deveria então retornar ao posto de saúde na segunda-feira e passar a tomar uma dose diária.

– Sei que a dose estava no limite, mas queria ter a certeza que ele tomaria e de que melhoraria rapidamente. Posso errar e acertar como qualquer pessoa – comenta.

Sobre as complicações da dosagem, o médico, com 25 anos de formação, explica que inicialmente o paciente poderia ter problemas intestinais, como diarreia. Para Cazajus, questões mais graves, como risco de vida, só podem ser consideradas se a medicação for tomada desta forma por um período mais longo.

Médico, o secretário municipal de Saúde de Tramandaí, Mário Mitsuo Morita, diz que nunca receitou esta dose de Azitromicina, mas respeita a conduta do colega de profissão e acredita que a dosagem não vá piorar a saúde do morador.

– A receita depende do quadro clínico do paciente. No entendimento do médico, era necessário – diz Morita.

O secretário pediu para que o argentino fosse ontem à casa do paciente. Cazajus comentou que tentou procurá-lo, mas não o encontrou na residência. Conforme a a Secretaria de Saúde, o homem passa bem.


ENTENDA O CASO

- No domingo, a dona do perfil @sokris, no Twitter, divulgou uma imagem que viu no Facebook em que mostra uma receita escrita pelo médico argentino Juan Pablo Cazajus

- Desde o começo do mês, o profissional contratado pelo Programa Mais Médicos atende na Unidade de Saúde da Zona Sul, em Tramandaí

- A prescrição do antibiótico Azitromicina replicada no Twitter orienta o paciente a tomar um comprimido de 500mg de oito em oito horas (três vezes ao dia)

- Considerada fora do padrão, a dosagem embasou a crítica ao Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e consequentemente ao Programa Mais Médicos, que não exige a prova do Revalida para os profissionais formados no Exterior

- A receita foi reproduzida em sites Brasil afora. Com a repercussão e a qualidade da formação dos médicos contratados colocada em xeque, o Ministério da Saúde divulgou um esclarecimento dizendo que acompanha o caso

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