quinta-feira, 2 de agosto de 2012

GRIPE "A" LONGE DOS PAÍSES VIZINHOS


ZERO HORA 30 de julho de 2012 | N° 17146

SURTOS REGIONAIS. H1N1 longe dos países vizinhos. Variações na circulação do vírus nos últimos anos fazem com que países como a Argentina fiquem livres da contaminação

MARCELO GONZATTO 


Depois de varrer o mundo na forma de uma pandemia, hoje o vírus da gripe A se distribui de maneira irregular, provocando surtos localizados como o que atinge o Rio Grande do Sul. Mesmo tendo tomado medidas semelhantes ou até mais brandas do que os gaúchos, países como a Argentina seguem livres da disseminação da doença.

O mais recente boletim informativo sobre a gripe A do Ministério da Saúde, divulgado semana passada, traz um panorama resumido sobre a situação do H1N1 nos dois hemisférios. No Norte, os Estados Unidos apresentaram somente surtos regionalizados, como no Texas. Na maior parte dos EUA e do Canadá, os vírus predominantes foram de outros tipos, como o A (H3N2) ou o Influenza B – que também provocam gripe, mas com variações em relação ao que já provocou 47 mortes no Estado.

Cenário semelhante se encontra na América do Sul. Por razões de circulação natural do vírus, o H1N1 é preponderante em relação a outras variantes da gripe no Paraguai e na Bolívia. No Brasil, sua ação se concentrou em Estados como Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Na Argentina e no Chile, até o momento, ele se manteve praticamente fora de ação.

Contaminações são de outro subtipo do vírus

Conforme o Ministério da Saúde argentino, apenas 0,14% das amostras testadas no país deram positivo para o H1N1. A grande maioria das contaminações ocorreu pelo chamado Vírus Sincicial Respiratório (VSR) e por um outro subtipo de Influenza A.

– A circulação do vírus depende do intercâmbio de pessoas contaminadas. Em 2009, a Argentina enfrentou uma epidemia. Agora, começou por aqui, mas a distribuição do vírus é mais localizada.

Eles não fizeram nada diferente de nós: são variações comuns na circulação dos vírus, segundo o epidemiologista Jair Ferreira.

O fato de o país vizinho ter registrado muitas contaminações há três anos pode ter deixado um maior percentual da população imune à doença. Os critérios de vacinação argentino são mais excludentes do que os gaúchos, e a proporção de doses de vacina é inferior à disponibilizada no Estado.


ENTREVISTA. “A melhor arma que temos ainda é a vacinação”. Gregory Hartl, representante da OMS

Porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS) na sede da entidade, em Genebra, na Suíça, Gregory Hartl acompanha de perto a evolução do vírus Influenza A(H1N1) desde o seu surgimento, em 2009. Hartl, que também é médico, diz que, devido ao custo e à praticidade, a entidade destina doses da vacina preferencialmente a determinados grupos.

Zero Hora – Como o senhor avalia a situação do vírus Influenza A(H1N1) no mundo hoje?

Gregory Hartl – O H1N1 agora circula como um vírus Influenza sazonal. Espera-se que vejamos casos de H1N1 durante a temporada de Influenza.

ZH – Há orientações gerais para vacinação subscritas pela OMS, como qual deve ser o público prioritário ou a proporção de pessoas da população que deveria receber as doses?

Hartl – A OMS recomenda vacinações anuais para, em ordem de prioridade: residentes de casas de assistência para idosos ou pessoas com deficiência, pessoas com doenças crônicas, idosos e outros grupos como mulheres grávidas, profissionais de saúde, aqueles com funções essenciais na sociedade e crianças com idades de seis meses a dois anos.

ZH – Vacinar toda a população não seria a medida ideal para combater o vírus? Algum país faz isso?

Hartl – Nenhum país jamais fez isso. Não tenho como especular se isso ocorrerá algum dia.

ZH – Por que a vacinação abrangente não tem sido uma opção?

Hartl – Pode ser por uma ou mais razões, incluindo o custo da vacina, a dificuldade de chegar a todas as pessoas de um país, pela relação custo-benefício e pela disponibilidade da vacina. Não tenho como dizer quais dessas razões se aplicam. Certamente, a vacina para Influenza pode ser cara, e os recursos de um país, limitados. Contudo, as autoridades de saúde recomendam que somente aqueles com maior risco sejam vacinados. Quando um vírus novo para o qual ninguém tem imunidade aparece, mais pessoas estão em risco. Mas, repetindo, doses de vacina são limitadas, e o custo é alto. Então cada autoridade de saúde precisa equilibrar essas considerações em relação a quanto risco quer correr e que grupos ela entende que estão sob risco suficiente para serem imunizadas.

ZH – No Rio Grande do Sul, boa parte das vítimas do H1N1 eram adultos que não se encaixavam em grupos de risco candidatos à vacinação gratuita, como menores de dois anos ou idosos acima de 60, por exemplo. Isso não deveria alterar os parâmetros para vacinação?

Hartl – O H1N1 tem sido incomum no sentido de que afeta adultos jovens saudáveis. Essa foi uma das razões pelas quais o H1N1 foi tratado de maneira diferente de outros vírus Influenza e porque foi dada tanta atenção a ele quando surgiu, em 2009. Embora os jovens adultos sem problemas de saúde não sejam uma das prioridades de vacinação da OMS, se um jovem adulto quiser se vacinar, deveria.

ZH – É suficiente ter um bom estoque de antiviral e seguir a recomendação de ministrá-lo nas primeiras 48 horas da doença para evitar mortes?

Hartl – As evidências mostram que a administração precoce de Oseltamivir (Tamiflu) pode reduzir significativamente a progressão da gripe para uma doença mais grave e para a morte, mas o Oseltamivir ou outros antivirais não eliminam completamente o risco de morte. A melhor arma que nós temos contra o Influenza é a vacina.

ZH – Qual sua expectativa para o comportamento do Influenza A(H1N1) nos próximos meses?

Hartl – Vai circular como qualquer outro vírus sazonal de Influenza durante o período da gripe.

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