Superlotação das emergências, por Felipe Costa Fuchs, MÉDICO. ZERO HORA 26/01/2011
Há tempos vem sendo exposta na imprensa a caótica situação das emergências dos hospitais que atendem pelo SUS em Porto Alegre, especialmente o Hospital de Clínicas (HCPA) e o Hospital Conceição. A frequência com que se noticia a calamidade dessas emergências vem aumentando, ainda que o problema seja crônico.
A questão que se impõe no momento é sobre as soluções apontadas para resolver essa tragédia da saúde. Unidades de Pronto Atendimento, as UPAs, são ditas como a maneira definitiva de amparar o nosso sistema de saúde público. Entretanto, a suposição de que as emergências lotam devido a pacientes que deveriam antes consultar nos postos de saúde não procede. Emergências não lotam de pacientes com enfermidades que poderiam ser tratadas ambulatorialmente. Esses casos são atendidos e liberados. Eles apenas retardam a espera por atendimento. Emergências lotam de pacientes com doenças que não podem esperar por tratamento. São casos que requerem a intervenção de especialistas, exames de alta complexidade e, impreterivelmente, internação – quesitos não preenchidos pelas UPAs.
De fato, o ampliamento das unidades básicas de saúde é fundamental. Com foco na prevenção primária, com certeza contribuirão para a resolução do abarrotamento de pacientes em emergências, a longo prazo.
No entanto, o foco do problema não é esse. O fechamento de hospitais e a diminuição de aproximadamente 10 mil leitos destinados ao SUS no Estado, nos últimos 10 anos, são responsáveis diretos pela situação atual. A “ambulancioterapia”, rotina adotada por cidades do Interior que consiste em abrir mão de investimentos na saúde, encaminhando os seus habitantes enfermos à Capital, também contribui para a superlotação dos hospitais.
Sendo a falta de leitos o cerne do problema, a estratégia definida para melhorar a saúde pública do nosso Estado deve necessariamente contemplar o incremento de leitos de alta complexidade.
A situação das emergências dos hospitais privados também não é alentadora. No último inverno, foi noticiada a surpreendente lotação das emergências dos maiores hospitais privados de Porto Alegre. A notícia só não foi surpreendente para os profissionais que trabalham em tais locais, acostumados a conviver com a dificuldade de acomodar um paciente em um leito de internação.
Enfim, há uma clara demanda reprimida de leitos em hospitais qualificados, com capacidade para resolver casos de média e alta complexidade, tanto no sistema público quanto no de saúde complementar. A diferença é que nas emergências de hospitais públicos a situação já ultrapassou o limite do aceitável há muitos anos. Somente a expansão da rede hospitalar em Porto Alegre e no nosso Estado pode, de fato, mudar o panorama da saúde no Rio Grande do Sul.
No Brasil, a saúde pública é tratada com descaso, negligência e impostos altos em remédios e tudo o que faz bem à saúde. Médicos e agentes da saúde são poucos e mal pagos; As pessoas sofrem e morrem em filas, corredores de ambulatórios e postos de saúde; As perícias são demoradas e burocracia exagerada; Há falta de leitos, UTI, equipamentos, tecnologia, hospitais e postos de saúde apropriados para a demanda; A impunidade da corrupção desvia recursos e incentiva as fraudes.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
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