sexta-feira, 16 de março de 2012

SAÚDE: O POVO DUAS VEZES PREJUDICADO

Carlos Alberto von Mühlen, Médico reumatologista, professor titular licenciado da PUCRS e fundador da entidade filantrópica Grupo de Pacientes Artríticos de Porto Alegre (Grupal) - ZERO HORA 16/03/2012


Vivemos no Estado que menos gasta com saúde em todo o país: devem ser aplicados apenas 7,5% do PIB no setor em 2012, longe dos 12% determinados pela regulamentação da Emenda 29, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff em janeiro. Os gaúchos são duplamente afetados pelo subfinanciamento de um setor tão importante: primeiro, pelo gasto irrisório do governo estadual; segundo, pela verba despendida pela União, que destina cerca de 4% do PIB à saúde. Países como Espanha e Reino Unido, também com sistema universal, gastam mais de 6%. Nos faltam, no mínimo, R$ 83 bilhões por ano para chegar lá – mais do que todo o orçamento do Ministério da Saúde em 2011.

Esses dados nos permitem entender o que o cidadão vive na pele todo dia. Um exemplo são as pessoas com artrite reumatoide, doença que acomete as várias articulações do corpo e atinge até 1% dos brasileiros. Em Porto Alegre, três hospitais atendem pessoas com reumatismo pelo SUS, mas a fila aumenta a cada dia. Na prática, um paciente pode levar dois anos para chegar ao profissional responsável pelo tratamento. Só que neste período a doença avança. A artrite reumatoide é, sozinha, a segunda maior causa de afastamento do trabalho, segundo o Ministério da Saúde. Considerando que existem 120 formas distintas de reumatismo, o quadro é desolador.

Na área de saúde, a falta de investimentos no presente é ruim também para o futuro, porque acarretará elevação de gastos públicos com procedimentos que seriam desnecessários houvesse tratamento no estágio inicial da doença. O governo não fornece de forma consistente medicamentos tradicionais e baratos. Outra lacuna importante é o não fornecimento na rede pública de medicamentos biológicos aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária para pacientes com artrite reumatoide. O Estado aprova os produtos para comercialização no Brasil, mas não os fornece a seus cidadãos. Já a realidade dos planos privados é diferente: desde janeiro, todas as operadoras são obrigadas a fornecer essas drogas mais complexas, necessárias para os pacientes que não respondem aos tratamentos tradicionais ofertados pelo SUS.

O fato é que todos os gaúchos sofrem com o descaso de um governo federal que estabelece gastos mínimos para municípios e Estados, mas não um para si próprio. E também com o Executivo estadual, que aparenta se contentar em ver a unidade da federação na lanterninha do Brasil em uma área primordial como a saúde.

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