quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A EMERGÊNCIA PEDIÁTRICA



ZERO HORA 01 de agosto de 2013 | N° 17509

 Sérgio L. Amantéa*


Por superlotação, a Emergência encontra-se impossibilitada de prestar atendimento com normalidade. Ao longo de muitos invernos, esta foi a epidemia que assolou nosso sistema de saúde. Uma doença crônica, resistente a tratamentos paliativos e às medidas preventivas aplicadas. Recentemente, o desinteresse pela pediatria e a diminuição de profissionais envolvidos com emergência pediátrica criaram nova realidade, capaz de selar o prognóstico deste sistema cronicamente enfermo.

“Por falta de pediatras, a Emergência encontra-se impossibilitada de prestar atendimento com normalidade.” O quadro assume maior gravidade no inverno, período em que nossas crianças são mais suscetíveis a necessitar do serviço.

O resultado dessa afecção, diferentemente do comportamento crônico da doença do sistema, é um desfecho clínico mais avassalador, resultando em uma morte rápida do serviço (fechamento), que se vê incapaz de sanar suas deficiências. Fora da rede pública (convênios e privados), o efeito é mais significativo. Recentemente, no Rio de Janeiro, 11 emergências pediá-tricas privadas que atendiam cerca de 9 mil crianças/mês, fecharam. As que ainda funcionam estão sobrecarregadas. Em São Paulo, nas 10 maiores emergências pediátricas de hospitais privados a espera é de até seis horas.

O cenário de Porto Alegre não é diferente. Fora da rede pública-SUS, possuímos apenas três hospitais com serviços de emergência pediátrica funcionando. As clínicas de pronto atendimento infantil, que há anos prestavam assistência, sucumbiram a pressões econômicas impostas pelas fontes pagadoras (convênios) e desapareceram. Mudanças no comportamento de nossos pediatras, desinteressados pela prática de consultório, também contribuíram para o aumento desta pressão assistencial.

Considerando as dificuldades impostas para preenchimento do quadro profissional e o uso inadequado do serviço por parte dos usuários, é possível imaginar uma situação preocupante. Levando-se em conta a pequena rede assistencial disponibilizada para convênios e o crescente número de usuários com acesso à saúde suplementar em nossa cidade (aproximadamente 45% da população, fonte Agência Nacional da Saúde), é possível imaginar uma iminente falência do sistema, já expressa pela ocorrência de sistemáticos e temporários fechamentos.

A situação imposta se constitui numa real emergência e expõe risco a todos aqueles que dessa atividade dependem: gestores, profissionais da saúde e pacientes. A “emergência pediátrica” não está apenas no SUS: ela contamina todo o sistema hospitalar.

*MÉDICO

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