quarta-feira, 21 de agosto de 2013

IDOSO MORRE DEVIDO AO DESCASO E FALTA DE AMBULÂNCIA


ZERO HORA 21 de agosto de 2013 | N° 17529


EDUARDO RODRIGUES


DESCASO NA SAÚDE

Idoso morre após demora e falta de ambulância do Samu. Depois de atender de forma ríspida e desligar telefone, médico foi afastado pela prefeitura da Capital



Um flagrante da falta de atendimento a um idoso minutos antes de ele morrer, feito por uma equipe da RBS TV na manhã de ontem, em Porto Alegre, expôs a escassez de ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e o despreparo de um médico do serviço de regulação. Após sofrer um mal súbito no terminal de ônibus Parobé, no centro da Capital, o segurança e jardineiro Orlando Francisco Rodrigues da Silva, 70 anos, não pôde ser socorrido sob a alegação de falta de ambulância.

O funcionário do Samu – que não teve o nome divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde – foi afastado após a confirmação da morte do morador da Vila Jardim. Uma sindicância também foi aberta para apurar o fato. Em vez de pedir informações ao repórter Manoel Soares sobre o estado de saúde de Silva, que era atendido pelo bombeiro Guilherme Limongi Barbieri, 21 anos, o funcionário do Samu respondeu ao pedido de ambulância com rispidez. Em seguida, encerrou a ligação telefônica (veja, ao lado, a fala do atendente).

Depois das tentativas desesperadas de reanimar o idoso, PMs levaram Silva para o HPS em uma viatura do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM). Não havia maca, e o segurança foi carregado nos braços até o veículo. De acordo com o hospital, o paciente chegou às 10h54min. Seis minutos depois, os médicos constataram a sua morte. Conforme o Departamento Médico Legal (DML), a causa do óbito foi parada cardiorrespiratória em decorrência de complicações causadas por um carcinoma (câncer) na região pélvica.

“Fiz o que estava ao meu alcance”, lamenta bombeiro

Há cinco meses na unidade terrestre do Grupo de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros da Capital, o bombeiro Barbieri passou a tarde e a noite de ontem recebendo elogios de colegas por sua atuação. Mesmo assim, não se conformava:

– Levantei a camisa dele e vi que não havia movimento torácico, então comecei a fazer massagem para manter a oxigenação dos órgãos vitais. Lamento que tenha ido a óbito. Fiz o que estava ao meu alcance.


Promessas e cobranças

A coordenadora do Samu na Capital, Rosane Ciconet, garante que todas as ambulâncias estavam em atendimento no horário das ligações. Admitiu carência nos horários de pico, projetando que o ideal seriam mais quatro viaturas (com equipes) de suporte básico. Ou seja: um aumento de um terço sobre as 12 atuais. Rosane criticou a postura adotada pelo médico.

– Acho que não se justifica a rispidez – destacou a coordenadora.

O secretário municipal de Saúde, Carlos Henrique Casartelli, solicitou todas as planilhas de serviços das ambulâncias para verificar onde cada uma estava na hora das chamadas. Ele também quer saber porque o veículo de intervenção rápida que estava no HPS não foi utilizado.

– Enquanto eu não receber as informações, não sairei da secretaria – afirmou ontem à noite.

Porto Alegre, com 1,4 milhão de habitantes, dispõe de 15 ambulâncias: as 12 de suporte básico (SB) e três de suporte avançado (SA), além de seis veículos para transporte social e um de intervenção rápida.

O Ministério da Saúde preconiza uma ambulância de SA para cada grupo de 400 a 450 mil habitantes, e uma de SB para cada grupo de 100 mil a 150 mil habitantes. A Capital estaria no limite mínimo.


“Vamos buscar justiça”

O segurança Luciano César Oliveira da Silva, 38 anos, filho de Orlando Francisco Rodrigues da Silva, foi avisado por um amigo: seu pai apareceu no Jornal do Almoço sendo atendido no chão, no Centro. No HPS, soube da morte. À noite, enquanto lidava com trâmites para o velório, ele falou, por telefone, com o Diário Gaúcho.

Diário Gaúcho – Seu pai estava bem de saúde?

Luciano Silva – Esses dias ele reclamou de dor no serviço. Mas parecia bem.

Diário – A dor era em função do câncer?

Luciano – Não sabíamos desta doença (que originou a parada cardiorrespiratória). Só se ele escondeu da gente (Orlando Silva tinha quatro filhos). Vou me informar melhor agora.

Diário – Soube da falta de atendimento do Samu?

Luciano – Sim. Todo mundo viu pela TV. Vamos buscar justiça, para que outros casos não se repitam por aí. É muito triste isso.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Enquanto os parlamentares recebem altos salários e desfrutam privilégios como uma saúde vip e emendas para os mais diversos interesses, o povo sofre com serviços públicos morosos, insuficientes e de má qualidade. Infelizmente, o cenário de descaso revela que os governantes estão se lixando para as agruras do povo que elege e deposita confiança e esperança por um Brasil melhor, solidário e mais justo. Onde estão os representante eleitos para representar o povo que nada fazem para fiscalizar e exigir a execução e aplicação das leis para atender direitos sociais e o bem estar deste mesmo povo detentor de seus mandatos? ONDE ESTÃO?


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