sexta-feira, 23 de agosto de 2013

MAIS MÉDICOS NO MESMO LUGAR



ZERO HORA 23 de agosto de 2013 | N° 17531


MAIS MÉDICOS


Criado sob a expectativa de ampliar o atendimento na saúde básica nos rincões do Brasil, pelo menos no Rio Grande do Sul o programa Mais Médicos está distante de contemplar essa meta. Um levantamento de ZH revela que mais da metade dos profissionais brasileiros formados no país e inscritos no Estado pretende permanecer na mesma cidade onde já reside – e a maioria deles ficará concentrada em municípios de médio e grande porte.

Aesperança que o programa federal Mais Médicos deu aos pequenos municípios gaúchos de receber profissionais para atuar na atenção básica à saúde acabou frustrada. Um levantamento de Zero Hora revela que mais da metade dos médicos brasileiros formados no país que devem assumir as vagas no Rio Grande do Sul permanecerá na mesma cidade onde mora. Desse total, quase 70% ficarão em municípios com mais de 100 mil habitantes.

Dos 18 entre pelo menos 33 profissionais que não precisarão se mudar, cinco (27,8%) moram em Porto Alegre. Outros três são de Pelotas, dois de Bagé, um de Canoas e outro de Rio Grande. Um estudo do Conselho Federal de Medicina deste ano mostrou que Porto Alegre é a segunda capital com mais médicos por habitantes no país. O presidente da Federação das Associações de Municípios do Estado (Famurs), Luiz Valdir Andres, avalia como “decepcionante” a decisão do governo de concentrar boa parte dos médicos em cidades grandes como Porto Alegre ou Pelotas. Para o representante dos prefeitos, o programa não teve impacto no Interior, onde a carência na saúde é maior.

O diretor do Departamento de Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Felipe Proenço, explica que o programa tem como objetivo levar médicos a áreas carentes não apenas do Interior, mas também nas periferias das grandes cidades. Para ele, essa é a razão para o número alto de médicos selecionados para Porto Alegre e Pelotas:

– Destinamos médicos para áreas da fronteira do RS também, onde há carência de profissionais.

Conforme Proenço, para suprir as demandas dos municípios que ainda não foram contemplados, o governo aposta na segunda fase do programa, aberta na segunda-feira. Médicos e municípios têm até o dia 30 para se inscrever.

Na avaliação de Ronaldo Bordin, professor do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mesmo se o programa distribuísse melhor os médicos pelo Estado, é preciso também investir em infraestrutura e equipes de saúde para manter os profissionais nas regiões mais necessitadas.

– É possível ainda que outros médicos desistam durante o processo, por não se adaptarem às condições de trabalho do programa – afirma Bordin.

A maioria dos médicos entrevistados por ZH afirmou que a remuneração de R$ 10 mil foi a principal motivação para assumir as vagas. Em segundo lugar, está o desejo dos profissionais em trabalhar com comunidades de baixa renda. A possibilidade de conciliar o trabalho com outros empregos ou com o estudo para residência também foi citada.

Nos casos em que é impossível conciliar os empregos atuais com o programa, alguns optaram por abandonar vagas na rede pública. Dos 19 profissionais que atendem pelo SUS, pelo menos cinco afirmaram que abandonarão os empregos atuais para participar do Mais Médicos, o que representa quase 30%.

– O programa troca seis por meia dúzia. Em vez de atrair novos profissionais, com plano de carreira, atrai médicos que já atuavam na saúde pública, mas ganhavam menos – critica o presidente do Sindicato Médico do Estado (Simers), Paulo de Argollo Mendes.

FERNANDA DA COSTA, JÚLIA OTERO E VANESSA KANNENBERG

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