sábado, 20 de julho de 2013

A CARÊNCIA DE MÉDICOS






ZERO HORA 20 de julho de 2013 | N° 17497

POSTOS DA CAPITAL

Levantamento da prefeitura de Porto Alegre revela que parcela significativa das vagas previstas está aberta devido à falta de candidatos. Representantes da categoria reclamam da remuneração oferecida e da insegurança para atuar nas áreas mais pobres.


HUMBERTO TREZZI

Um cartaz com aviso colado na porta da Unidade de Saúde da Família Moradas da Hípica, no bairro Hípica, zona sul de Porto Alegre, desanima quem busca atendimento.

“Atenção: comunicamos a população que estamos sem médicos. Motivos: dr. em férias, dra. fraturou a mão, está afastada.”

Outros profissionais para males corriqueiros, como enfermeiros, estão lá. Mas as pessoas querem mesmo um médico, quando não sabem que mal as aflige. E o posto deveria ter substituto para esses casos. Não tem. E casos assim se repetem Capital afora.

A Secretaria Municipal de Saúde afirma que faltam hoje 371 médicos nos postos de saúde da cidade (para atender média recomendada pelo Ministério da Saúde). É uma carência de 52% em relação ao efetivo previsto para atuar na rede municipal de atendimento básico, que seria de 713 médicos. A prefeitura acha que, com mais 267 médicos, poderia resolver o problema, mesmo sem o número ideal. Qual seria a razão da carência?

O prefeito José Fortunati, ao inaugurar uma moderna unidade de saúde da família na Zona Norte, na semana passada, afirmou que há grande resistência dos médicos em trabalhar na periferia.

Ele falou que as vagas existem, concursos são abertos, mas que é difícil encontrar profissionais dispostos a atuar nas regiões mais carentes, mesmo com salários de R$ 10 mil mensais e jornadas de 40 horas semanais de trabalho.

O chefe do Executivo municipal, que preside a Frente Nacional de Prefeitos, voltou a dizer que essa é uma das razões pela qual apoia a proposta de trazer profissionais do Exterior para atuar no país.

– Caso os médicos não queiram vir trabalhar aqui, vamos importar médicos argentinos, portugueses ou espanhóis. Se os médicos brasileiros acham que têm mais condições que os estrangeiros, que aceitem vir atender a população carente – desabafou.

Para médicos de família, que inclusive visitam pacientes em casa, a prefeitura paga R$ 9.923,79 por 40 horas semanais de trabalho. Para os não especializados em Medicina da Família, R$ 9.027,04.

O Sindicato dos Médicos-RS (Simers) admite que muitos médicos não querem trabalhar na periferia por essa remuneração, mas ressalta que o piso estabelecido pela Federação Nacional dos Médicos é de R$ 10,4 mil por 20 horas semanais (ou R$ 20 mil por 40 horas na semana). Ou seja, exatamente o dobro do que vem sendo pago em Porto Alegre.

Filas desanimam novos candidatos

O presidente do sindicato, Paulo de Argollo Mendes, acrescenta outros dois fatores que afastam os profissionais dos postos de saúde. O primeiro é que, pela carência de profissionais, quem se sujeita a trabalhar acaba fazendo o serviço de três. O resultado são filas de pacientes, horas de espera por atendimento e irritação do doente, que é descontada no médico, diz Argollo.

– Outro ponto que inibe os médicos é que alguns lugares exibem altas taxas de criminalidade. O ideal é que o Estado construísse postos junto a unidades da Brigada Militar e escolas, concentrando funcionários públicos. É um conceito moderno e que tem de ser implementado – sugere Argollo.

O secretário municipal da Saúde, Carlos Henrique Casartelli, gosta da ideia de concentrar postos de saúde próximo a unidades policiais e admite que os médicos ligados à saúde básica estão sobrecarregados. Mas diz estranhar que não queiram trabalhar por R$ 10 mil mensais.

– O salário não é ideal, mas não é pouco. Gostaria de ganhar os R$ 20 mil que eles pedem, mas é difícil alguém custear isso – adverte.

Um levantamento recente do município mostra que a carência de médicos (total ou parcial) atinge 14 (16%) das 88 Unidades de Saúde da Família da Capital.

Casartelli ressalta que o país tem 100 mil profissionais cadastrados no programa Mais Médicos (destinado a levar assistência de saúde aos grotões) e está otimista: acredita que as vagas serão preenchidas em breve. Foi aberto processo seletivo para 15 médicos em caráter temporário e outras 44 vagas definitivas devem ser ofertadas até o final do mês.




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