terça-feira, 16 de julho de 2013

UM PEDIATRA E MUITAS HORAS NA FILA DE ESPERA


ZERO HORA 16 de julho de 2013 | N° 17493

REPÓRTER NA SAÚDE

Demora para ser atendido é uma das principais queixas de quem recorre ao Dom João Becker

LARA ELY

Apenas um pediatra para atender todos os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa é a principal queixa que os pacientes da Emergência do Hospital Dom João Becker têm em relação aos serviços prestados na maior instituição de saúde de Gravataí. Ao receber doentes de toda a Região Metropolitana, o local está com o setor superlotado. O tempo de espera para atendimento não costuma baixar de três horas.

Em dias mais movimentados, porém, a espera pode tranquilamente exceder um turno. De acordo com relatos feitos à reportagem, se o estado do paciente não for considerado grave, ele poderá esperar cerca de oito horas até ver um médico.

– O problema é que, após toda essa espera, somos atendidos em cinco minutos e liberados – relata Luciana Lemos, 36 anos, que diz se sentir desrespeitada pelo descaso com a população.

Com o filho de um ano no colo, reclama da falta de prioridade que se dá para crianças e idosos. Também comenta que pacientes de convênio e do SUS aguardam praticamente o mesmo tempo.

Havia mais de 14 horas sem notícias da bisavó internada na noite anterior, a estudante Daiane Luz, 17 anos, foi levada ao desespero pela escassez de informações. Chegou ao posto no exato momento da visita, às 11h30min, mas foi impedida de entrar na sala de emergência porque havia outro paciente, em estado grave, impossibilitando a entrada da jovem. A explicação dada pela enfermeira não acalmou a família.

– Falaram que a gente não podia entrar lá, e sequer nos apresentaram um boletim médico ou um laudo dizendo que ela estava bem. Isso é revoltante e desumano – protesta a neta.

Essa foi a primeira vez que a aposentada Neusa Fagundes pôs os pés na Emergência do hospital de Gravataí, mas a passagem por lá foi suficiente para nunca mais querer voltar. Acompanhando o marido que apresentava quadro de infecção e dores no corpo, ela sentiu que o problema do companheiro fora subestimado e, mesmo antes de ser atendida, ficou com uma péssima impressão do local.

– Disseram que a situação dele não é grave, mas sequer perguntaram se estava com dor. Nosso sofrimento não parece prioridade – desabafa, irritada.

Antigo frequentador do hospital Dom João Becker, o servente Clério Sebastião da Silva, 30 anos, diz que inúmeras vezes foi obrigado a declinar da consulta. O motivo é sempre o mesmo: a morosidade no atendimento. Revoltado com o fato de ter sido encaminhado ao posto de saúde 24 horas e também não encontrar vaga, ele reclama:

– Venho direto aqui e está sempre lotado. Há dias em que não aguento esperar e vou embora, pois tenho que trabalhar. Às vezes, me dirijo ao posto 24 horas, chego lá e eles me mandam de volta. Ficamos neste impasse – diz.

Se os pacientes aguardam até oito horas na fila, é porque a situação não é tão grave. Essa é a explicação dada pela gerente da Enfermagem do Dom João Becker, Cátia Demétrio, para justificar por que o hospital ainda não fechou as portas ao público. Concordando que as condições de atendimento estão precárias e poderiam ser melhores com mais profissionais, ela atribui a superlotação ao fato de que 80% dos que esperam consultas não estão em estado grave, e poderiam ser atendidos na rede básica de saúde.

– Recebemos gente de toda a região e estamos com a emergência superlotada. Pagamos esse preço por não fecharmos as portas – afirma a enfermeira Cátia.

Segundo Cátia, a Emergência possui dois plantonistas. Em relação ao número de pediatras, são apenas dois para atender a toda a demanda do hospital – um para o SUS e um para os convênios.

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