terça-feira, 30 de julho de 2013

PACIENTES VIAJANTES

ZERO HORA 26 de julho de 2013 | N° 17503

REPÓRTER NA SAÚDE

A rotina de pacientes que viajam por atendimento. Moradores de Morro Redondo, no Sul, enfrentam cansativa jornada para tratamento contra o câncer



São 4h45min, o dia nem amanheceu em Morro Redondo, no sul do Estado, e Holdina Güthn Vhl, 64 anos, está de pé com “quatro mangas”, como diz, para suportar os 3°C marcados no termômetro no trevo da cidade. Dessa vez não se levantou cedo por causa da lavoura, como costumava fazer até quatro anos atrás.

Omotivo que a fez parar de trabalhar é o mesmo que a desperta: uma leucemia. Na quarta-feira, ela esperava um micro-ônibus da prefeitura em uma parada para fazer o deslocamento até a cidade referência de oncologia na região, Pelotas.

A proposta do governo é de que pequenos municípios como Morro Redondo – com 6.231 habitantes – tenham apenas atendimentos básicos. Na cidade, há três postos de saúde e um hospital com clínico geral, ginecologista e pediatra. O restante das especialidades e procedimentos de maior complexidade tem de ser feito em municípios vizinhos, como Rio Grande, Bagé, Piratini e Pelotas.

– Temos viagens marcadas todos os dias. Nosso micro-ônibus, com 23 lugares, geralmente sai todas as manhãs e, quando necessário, também ao meio-dia. No último mês, foram mais de 130 pacientes deslocados – calcula a secretária municipal de saúde, Idelvani Tessmer Muller.

Às 6h06min de quarta-feira, o veículo começou a buscar sete pacientes para levá-los a Pelotas. A cada embarque vinha um “bom dia” baixinho. Quando o sol começava a se espreguiçar no horizonte, 43 quilômetros e 57 minutos depois, os pacientes desembarcavam no Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

– A gente liga pro senhor quando estiver liberado, tá, seu Bruno? – disse o paciente Valdemar Cantareli, 70 anos, ao motorista.

Em uma sala de espera, Holdina aguardava para fazer um exame anual. Entrou às 7h12min e foi atendida às 8h30min:

– Rapidinho! – avaliou, comparando com o tempo que ficou internada no hospital quando descobriu a doença: 12 dias para fazer um exame “porque eles não tinham as agulhas”, conta ela. Depois, mais espera. Ela ligou para o posto de Morro Redondo, e um carro de um funcionário foi buscá-la, com outro casal de idosos. Às 10h45min, os três pegaram a estrada de novo.

JÚLIA OTERO | MORRO REDONDO


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