quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A DESORDEM DA SAÚDE DO RIO

FLÁVIO CURE PALHEIRO é médico-cardiologista e presidente do Instituto Rio Coração. O GLOBO, OPINIÃO, 13/09/2011 às 19h45m


Os seis primeiros meses do ano nos deixam prever a repetição em 2011 do fiasco no setor de transplantes de coração no Estado do Rio de Janeiro ocorrido em 2010. Até junho foram realizados somente quatro procedimentos, segundo dados divulgados pelo Programa Estadual de Transplantes (PET). Talvez consigamos melhorar um pouco em relação ao ano anterior, quando aconteceram seis procedimentos, de um total de 166 em todo Brasil. Este ano o somatório chega a 84. A exemplo do ano passado, São Paulo liderou o semestre com 40 transplantes. Ceará e Paraná vêm em seguida com onze, Rio Grande do Sul com sete, o Distrito Federal com cinco e o Rio, com quatro, na sexta posição num ranking de nove.

Se temos instituições aptas a realizar transplantes cardíacos em nível de excelência, capacitação técnica e tecnologia avançada para realizar os mais complexos procedimentos no setor, o que explica a posição atualmente ocupada pelo estado?

Certamente contam muito para esta situação crítica aspectos como a precariedade do atendimento nos hospitais públicos. As equipes destas unidades, na maior parte das vezes, não têm oportunidade para identificar potenciais doadores, nem condições de os manterem para retirada dos órgãos em tempo hábil. Com hospitais superlotados e poucos profissionais - a maioria mal remunerada - luta-se pela sobrevivência dos pacientes graves, sem possibilidade de dedicação àqueles com morte cerebral e chances de doar órgãos.

Outro problema para o qual é necessário atentar é o da falta e/ou existência de informações truncadas, que acabam se refletindo na falta de candidatos. Grande parte dos médicos do Rio de Janeiro não tem conhecimento sobre a capacidade instalada no estado para este procedimento. Consequentemente, seus pacientes também ficam desinformados e não se candidatam ao recebimento do órgão aqui no estado, buscando o transplante em outras unidades da federação. A questão é complexa e merece atenção e providências imediatas. Como isso é possível em um Estado com uma população de 16 milhões de habitantes?

Já é mais do que hora de revertermos esse quadro no qual nosso estado desperdiça corações e outros órgãos, enquanto milhares de pessoas padecem e morrem por falta deles, anualmente.

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