LUTA PELA VIDA. Após ser transferida, garota aguarda cirurgia. Luana, que conseguiu vaga na Capital pela Justiça, segue em estado grave - KAMILA ALMEIDA, zero hora 07/098/2011
Elisabete Rosa Rocha, 55 anos, tenta de tudo para agilizar os ponteiros do relógio. Vive a angústia pela melhora da filha Luana de Matos, 17 anos, internada em estado grave no Hospital São Francisco na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, onde deve passar por cirurgia no tórax. Apesar de tudo, a mãe sente um alívio paradoxal impulsionado pela certeza do dever cumprido.
Depois de vencer a batalha judicial que garantiu a transferência da adolescente baleada em Viamão no dia 18 de agosto para a Capital, Elisabete se sentou em frente à porta da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Cardiológica na madrugada de ontem, abriu o diário de Luana que carregava consigo nesses 18 dias de aflição e começou a escrever para desabafar.
“Luana está, segundo os médicos (do hospital de Viamão), sem esperança de sobreviver. Só há uma pequena luz no fundo do túnel, e por essa luz eu briguei muito e continuo a brigar”, diz o trecho da carta.
Sedada, adolescente respira com ajuda de aparelhos
A energia que moveu a mãe até Porto Alegre foi gerada na quarta-feira passada, quando o quadro de saúde de Luana se agravou no Instituto de Cardiologia Hospital de Viamão. A adolescente precisava de tratamento em um local de alta complexidade, mas não havia vaga em nenhum deles. Conseguiu no domingo uma ordem judicial para levar Luana à Santa Casa, o que ocorreu apenas na segunda-feira.
Conforme Eraldo de Azevedo Lúcio, chefe da Unidade de Cardiologia Intensiva da Santa Casa, Luana passa por exames e, apesar da necessidade de uma cirurgia o quanto antes, ainda não há data definida para o procedimento. Um panorama mais detalhado sobre o estado de saúde dela só deve ser divulgado na quinta-feira, passado o período crítico de 48 horas.
– Uma agulha foi colocada no pericárdio, membrana que envolve o coração, para drenar um derrame. O problema cardíaco foi resolvido, mas ela persiste em estado grave, com complicações neurológicas e problemas renais, além de apresentar um quadro infeccioso – explicou o cardiologista.
Além disso, Luana começou a fazer hemodiálise ontem. Sedada, ela ainda respira com a ajuda de aparelhos.
– Ela chegou debilitada, com a pressão muito baixa. Ela está tomando remédio para aumentar a pressão e melhorou – comentou o médico.
João Carlos de Matos, pai da paciente, lamentou a demora na tomada de providências e se mostrou inconformado com a recaída da filha:
– Ela chegou a levantar da cama, conversava, via TV. Deixaram agravar muito o quadro.
Entenda o caso
- Luana de Matos foi baleada no dia 18 de agosto, quando acompanhava uma amiga a um minimercado no Residencial Figueiras, em Viamão.
- O projetil atingiu o fígado e o pulmão da menina.
- A estudante já contava os dias para a alta médica quando teve uma regressão clínica na quarta-feira passada.
- Um derrame no pericárdio levou o hospital a pleitear a transferência para uma UTI de maior complexidade junto as centrais de leito de Porto Alegre e do Estado, enquanto os pais da adolescente buscavam a Justiça de Viamão para conseguir a mudança de hospital com rapidez.
- Os documentos só foram encaminhados com o apoio do Ministério Público, na sexta-feira.
- A ordem da juíza Liliane Ortiz para transferência da adolescente veio no domingo.
- Luana foi internada no Hospital São Francisco na noite de segunda-feira.
No Brasil, a saúde pública é tratada com descaso, negligência e impostos altos em remédios e tudo o que faz bem à saúde. Médicos e agentes da saúde são poucos e mal pagos; As pessoas sofrem e morrem em filas, corredores de ambulatórios e postos de saúde; As perícias são demoradas e burocracia exagerada; Há falta de leitos, UTI, equipamentos, tecnologia, hospitais e postos de saúde apropriados para a demanda; A impunidade da corrupção desvia recursos e incentiva as fraudes.
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
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