Foto: PEDRO REVILLION
CORREIO DO POVO, 29/09/2011
Paciência, dor e agonia. Este é o retrato dos pacientes que esperam por atendimento médico na Capital.
Fila de até 12 horas para conseguir ficha. Pacientes passam madrugadas em frente a postos na busca de consultas
Sentada em um papelão e enrolada em um cobertor. Foi assim que a estudante Denifer Sibriano da Silva, de 20 anos, passou 12 horas esperando para conseguir uma ficha na Unidade Estratégia de Saúde da Família Castelo, no bairro Restinga. "Se não chegar cedo, é impossível conseguir consulta", relatou ela, que ontem buscava atendimento de um clínico-geral. "A gente vem em busca de ajuda e o que recebe? Mais doença."
Em frente à fachada do posto, um manuscrito indicava a disponibilidade de fichas para o dia. Eram quatro para clínico-geral e sete para ginecologista. Denifer estava acompanhada da mãe, Sandra Regina, que também pretendia agendar uma consulta. Ela levou de casa uma cadeira e estava bem mais agasalhada para enfrentar a madrugada ao relento. "Chegamos às 19h de terça-feira, mesmo sabendo que o posto somente abriria às 7h de quarta. É uma falta de respeito", criticou Denifer.
Engana-se quem pensa que chegar tão cedo é desnecessário. Na fila em frente ao posto, a terceira pessoa havia chegado pouco depois das 20h de terça-feira. Era o irmão da doméstica Elzira Vargas. "Como não tinha condições de passar a noite na fila porque estou muito debilitada, pedi para ele vir no meu lugar."
Eduardo dos Santos Correa chegou ao posto às 21h30min da noite anterior na tentativa de conseguir agendar uma consulta para a sobrinha enferma. "Imagina ter que fazê-la ficar aqui na rua por quase 12 horas."
Ao longo da noite, a fila aumenta lentamente. Muitos chegam e verificam quantos estão na frente. Dependendo do número e da quantidade de fichas para atendimento, acabam desistindo. A falta de estrutura mínima em alguns postos, como bancos ou banheiro, torna a espera ainda mais desgastante e revoltante. Até pacientes com filhos no colo aguardam em pé.
No Brasil, a saúde pública é tratada com descaso, negligência e impostos altos em remédios e tudo o que faz bem à saúde. Médicos e agentes da saúde são poucos e mal pagos; As pessoas sofrem e morrem em filas, corredores de ambulatórios e postos de saúde; As perícias são demoradas e burocracia exagerada; Há falta de leitos, UTI, equipamentos, tecnologia, hospitais e postos de saúde apropriados para a demanda; A impunidade da corrupção desvia recursos e incentiva as fraudes.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
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