quarta-feira, 12 de setembro de 2012

EM SETE ANOS, 10% DE LEITOS A MENOS

 
ZERO HORA 12 de setembro de 2012 | N° 17190

O SUS NO ESTADO. Estudo do Conselho Federal de Medicina aponta redução no RS, especialmente em pediatria, obstetrícia, cirurgia e clínica geral

LARA ELY

O número de leitos no sistema público de saúde no Rio Grande do Sul diminuiu em 10% nos últimos sete anos. Estudo do Conselho Federal de Medicina (CFM) mostra que cerca de 2,5 mil vagas de internação foram desativadas no Estado, principalmente em pediatria (-762 leitos), obstetrícia (-467), cirurgia geral (-374) e clínica geral (-126). As informações integram uma análise do CFM sobre os aspectos que dificultam o trabalho do médico, como falta de investimento e de infraestrutura.

De acordo com dados apurados junto ao Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde, entre outubro de 2005 e junho de 2012, quase 42 mil leitos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) foram desativados em todo o país. Para o vice-presidente do CFM, Carlos Vital, é inaceitável a diminuição das condições de internamento no país, uma vez que a necessidade de assistência para a saúde cresce a cada ano. Segundo ele, a média é de 6 mil leitos a menos por ano, número que reforça deficiências na área da saúde pública.

– Falta financiamento, cumprimentos das propostas e valorização dos recursos humanos – afirma Vital.

O principal fator para a redução, segundo o diretor do Departamento de Assistência Hospitalar e Ambulatorial da Secretaria Estadual da Saúde, Marcos Lobato, está na migração de leitos do sistema público para o privado. Segundo ele, além da dificuldade que os hospitais enfrentam com financiamentos, a mudança no tipo de internações agrava o problema:

– Como mudou o perfil dos pacientes internados, não se consegue atender os casos por falta de tecnologia. Os hospitais foram preparados para um outro momento do SUS.

A medida para melhorar a situação adotada pela Secretaria Estadual da Saúde foca na destinação de recursos para a reabertura de hospitais, como o de Tramandaí, e o aumento da complexidade das tecnologias disponíveis, como no Hospital de Taquara, que agora conta com leitos de UTI.

Sem investimento, o número de leitos diminuirá, diz Cremers

Presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Rogério Wolf Aguiar acredita que, se não houver maior investimento em saúde coletiva, o número de leitos vai continuar diminuindo e o atendimento pelo SUS encolherá:

– Estamos fazendo pressão política por todos os lados para que seja cumprido o que está na lei. Não é uma responsabilidade apenas desse governo, mas dos governantes que passaram pelo poder nos últimos 10 anos.

Impacto sobre as emergências

A carência de leitos hospitalares é uma das questões que está por trás da superlotação de emergências. Segundo o presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul, Rogério Wolf Aguiar, se houvesse mais leitos disponíveis nos hospitais e vagas na atenção primária, muitos dos problemas que chegam aos hospitais poderiam ser evitados. A população acaba recorrendo às emergências, onde, apesar do longo tempo de espera, ainda é possível consultar pelo SUS.

O investimento na atenção primária e a construção de novas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) são soluções apontadas pelo diretor do Departamento de Assistência Hospitalar e Ambulatorial da Secretaria da Saúde, Marcos Lobato, como medidas para contornar o problema.

Causas apontadas
ESCASSEZ DE FINANCIAMENTOS
- Com o que recebem do SUS, os hospitais dizem não conseguir cobrir os custos de manutenção dos leitos. Alguns fecharam as portas ou reduziram as vagas por causa do déficit financeiro.
MUDANÇA NO PERFIL DOS PACIENTES
- Pelo aumento do atendimento preventivo, atualmente se interna menos crianças com pneumonia e mais idosos e pessoas com traumas, por exemplo. Por isso, em muitos casos não há tecnologia suficiente para o atendimento requerido.
TECNOLOGIAS DEFASADAS
- A falta de investimento em tecnologia faz que com os hospitais não consigam atender a demanda atual. A solução não está só na criação de novos hospitais, mas no aumento de vagas com maior complexidade técnica nos já existentes.




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