quinta-feira, 27 de setembro de 2012

SAMU: ATRASOS E SEM MÉDICO NA UTI MÓVEL

ZERO HORA 27/09/2012 | 05h33

Socorro médico - Auditoria apontou atrasos do Samu. Investigação ainda descobriu que UTIs móveis se deslocavam sem médico

Humberto Trezzi

O caso de Carlos Alberto Link, que quase morreu no início deste mês ao não ser atendido pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) em Porto Alegre – o atendente não localizou o endereço onde o paciente estava –, não é um episódio isolado.

Entre abril e maio de 2009 o Denasus realizou auditoria no serviço prestado na capital gaúcha. A investigação surgiu a partir de denúncia de um cidadão sobre atrasos nas ambulâncias, que teriam contribuído para a morte de uma pessoa com ataque cardíaco e de uma gestante e seu bebê.

A auditoria constatou que, em pelo menos 12 ocasiões, UTIs móveis (ambulâncias sofisticadas) do Samu se deslocaram sem presença de médico. Isso é irregular, porque está prevista a participação de um especialista deste tipo na equipe de cada veículo UTI – ou não seria UTI. A ausência se deu, em todos os casos, por atraso das equipes nas trocas de turno.

No caso da morte da gestante, a auditoria verificou que o deslocamento dela até o hospital levou 40 minutos, quando o prazo recomendado é de no máximo 12. Os auditores ressaltam ainda que tiveram muita dificuldade de verificar os prazos de deslocamento das ambulâncias, já que os arquivos de voz que registram as comunicações do Samu estavam inaudíveis, "em praticamente 100% dos casos", de modo que não foi possível ouvir as conversas entre equipes que estão na rua e operador de rádio. O sistema tampouco informava o nome do profissional médico que foi a campo, conclui a auditoria.

A Secretaria Municipal de Saúde informa que os problemas apontados pela auditoria foram corrigidos, mas outros incidentes mostram que ainda ocorrem confusões com o Samu. É o caso do atendimento de Carlos Link, no último dia 6 (relatado na edição de quarta-feira de Zero Hora). Com intensa hemorragia, à beira do desmaio, a vítima não conseguia se expressar e pediu à filha que pedisse ajuda via telefone. Mas o atendente do Samu não entendeu onde ficava o local (o Colégio Rosário) e a ambulância não foi enviada. Link só sobreviveu porque conseguiu dirigir até o Hospital Moinhos de Vento, onde o sangramento – fruto de uma ruptura arterial no abdômen – foi estancado, após perda de mais de dois litros de sangue.

Márcia Del Corona, doutora em linguística aplicada, realizou doutorado justamente sobre atendimento de serviços de emergência. No caso, o 190 da Brigada Militar. Ela acredita que confusões como a que vitimou Link ocorrem porque o pacote tecnológico do sistema operacional dos serviços de emergência exige, para gerar a ocorrência (e a liberação do veículo), informações precisas sobre o local do fato.

A coordenadora do Samu na Capital, Rosane Ciconet, admite que os atendentes trabalham com nome e número do endereço onde está a vítima, mas diz que, se for dado o nome de um colégio, o telefonista está orientado a buscar num mapa o local. O que não teria ocorrido, no caso de Link.

Outros problemas

A auditoria de 2009 constatou que a Central de Regulação funcionou, em algumas ocasiões, somente com dois médicos reguladores nos turnos do dia. E com apenas um médico regulador das 7h às 9h, quando deveriam ser três reguladores durante o dia. O regulador é o médico que decide a gravidade da situação, em cada chamado recebido.

As comunicações das equipes com a mesa reguladora e com o operador de rádio estavam inaudíveis em praticamente 100% dos casos verificados.

Contraponto

O que diz o secretário municipal da Saúde de Porto Alegre, Marcelo Bósio: "Ocorriam, anos atrás, atrasos de médicos na troca de plantão. Agora temos ponto eletrônico, que resulta em controle rígido de horário. Todas as UTIs têm saído com médico. Fizemos contratos para melhoria de ambulâncias e estabelecemos controle de qualidade nas gravações dos telefonemas. Atrasos viram sindicância, além de caso de estudo e qualificação de equipe. Atrasos ainda acontecem, mas são pontuais. Importante ressaltar que os médicos descartam, em alguns casos, envio de ambulância, quando a situação não configura urgência, embora possa aparentar isso, para um leigo".

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