domingo, 23 de setembro de 2012

LENTES TROCADAS

ZERO HORA 23 de setembro de 2012 | N° 17201

CASA DOS ESCÂNDALOS

Lentes trocadas geraram descredenciamento

Desde 29 de novembro de 2010, o Hospital Petrópolis, referência em cirurgias oftalmológicas no Rio Grande do Sul, não atende mais pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Foram dois os motivos que pesaram para o descredenciamento. Primeiro, uma inspeção do serviço de vigilância sanitária, que apontou irregularidades como seringas sem identificação, medicamentos vencidos, falhas na central de esterilização e ausência de kits de higienização das mãos.

Parte das irregularidades já havia sido constatada em uma vistoria realizada em 2009. O hospital sanou a maior parte dos problemas, mas outro fator contribuiu, meses depois, para descredenciar o estabelecimento: auditorias realizadas pela Secretaria Municipal de Saúde e pelo Ministério da Saúde.

Foram examinados os documentos de 1,1 mil cirurgias de catarata realizadas pelo hospital. Além de prontuários médicos incompletos, a auditoria do Ministério da Saúde constatou cobrança de facoemulsificação nas cataratas, sem que fosse encontrado registro de uso do aparelho facoemulsificador em 20% dos casos. A facoemulsificação é a remoção da catarata por meio de ultrassom.

O hospital assegura que fez as cirurgias e que algum erro ocorreu no preenchimento dos documentos referentes ao uso do aparelho. Mas aí surgiu outra auditoria, da Secretaria Municipal de Saúde.

– O Hospital Petrópolis cobrou do SUS por várias cirurgias pela colocação de lentes intra-oculares dobráveis (flexíveis), quando na verdade usava lentes rígidas, que custam metade do preço – diz o secretário da Saúde municipal, Marcelo Bósio.

Ele assegura que a informação está embasada em depoimentos dos fornecedores das lentes e nos prontuários das cirurgias.

O resultado foi a interdição para procedimentos do SUS. Os pacientes com cirurgias agendadas foram remanejados para outros hospitais. O Petrópolis ainda continuou fazendo atendimentos de emergência, que teriam resultado em despesa de mais de R$ 700 mil. Esses pagamentos foram protelados pelo SUS e agora são cobrados pelo hospital.
CONTRAPONTO
O que diz o oftalmologista Carlos Del Arroyo, diretor-geral do Hospital Petrópolis:
“Na auditoria do Ministério da Saúde investigaram por três meses os procedimentos do hospital, de forma profissional. O resultado aponta discordância no preenchimento das Notas de Sala Cirúrgicas – talvez os médicos tenham preenchido genericamente a expressão ‘cirurgia de catarata’, sem anotar o uso do aparelho facoemulsificador. Mas não há dúvida que as cirurgias foram feitas. Eles nos cobram R$ 44,1 mil, mas estamos recorrendo contra esse valor. Com relação à suposta auditoria da Secretaria Municipal de Saúde, não tivemos acesso aos resultados. Eles levaram os prontuários médicos, sem permissão. Eram sigilosos. Prestamos queixa disso junto ao Cremers. Até hoje não nos devolveram os prontuários. Com relação ao uso de lentes rígidas, em alguns casos elas foram usadas, sim, porque as gelatinosas eram de difícil inserção no paciente. Mas não colocamos lentes indevidas. A Secretaria Municipal de Saúde é que nos deve, R$ 714 mil, por atendimentos de urgência que continuamos a realizar após eles suspenderem nossas cirurgias eletivas. Nunca nos pagaram.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário