quinta-feira, 13 de setembro de 2012

PEREGRINAÇÃO E MORTE

G1 13/09/2012 09h04 - Atualizado em 13/09/2012 13h24

Homem morre após 5 viagens no RS em busca de atendimentos pelo SUS. Almedorino da Silva morreu quarta durante cirurgia recomendada há 20 dias. Estado diz ter monitorado situação até o paciente deixar hospital de Bagé.

Do G1 RS




Um homem de 48 anos precisou fazer cinco viagens entre quatro cidades do Rio Grande do Sul em busca de atendimentos médicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) após ter sofrido uma lesão na perna esquerda que causou outras complicações, como mostra reportagem do Bom Dia Rio Grande, da RBS TV (veja no vídeo). Depois de percorrer os caminhos entre Encruzilhada do Sul, no sudeste do estado, Bagé, na Região da Campanha, Cachoeira do Sul e Santa Cruz do Sul, ambas na Região Central, Almedorino Élcio da Silva não resistiu a uma cirurgia de amputação realizada nesta quarta-feira (12), que havia sido recomendada há 20 dias.

"Ele deveria ter tido uma prioridade maior no atendimento, lá no princípio" - Dilson Teodoro, médico

"Ele teve um período muito longo entre o evento inicial e o tratamento definitivo", lamenta o médico Dilson Teodoro, que acredita que a morte poderia ter sido evitada. "Ele deveria ter tido uma prioridade maior no atendimento a essa enfermidade, lá no princípio", acrescentou.

"Não só eu, a família toda quer que melhore a saúde, para que as pessoas não passem pelo que estamos passando, perder um pedaço da gente por falta de atendimento", lamenta a irmã de Almedorino Maria Dorvalina da Silva.

De Encruzilhada do Sul a Bagé

Segundo a família, no dia 22 de agosto, há cerca de três semanas, Almedorino foi atendido em Encruzilhada do Sul, mas precisou ser transferido para o Hospital Universitário de Bagé para receber o tratamento contra uma hemorragia digestiva. "Ele caiu, enganchou o pé num arame e caiu contra um alicerce de pedra que tinha na fonte", contou mulher de Almedorino, Joaquina de Oliveira Lopes, ainda durante uma das internações do marido.

Em Bagé, a hemorragia foi contida, mas foi diagnosticada uma insuficiência renal aguda que o hospital não tinha condições de tratar. Almedorino teria de ser submetido a uma cirurgia. O médico Gilberto Costa Gomes entrou em contato com a Central de Leitos, que sugeriu que ele tentasse um leito em Passo Fundo, no norte gaúcho, Rio Grande ou Pelotas, ambas no sul. As tentativas, no entanto, foram frustradas. "Tentei até contato com o gabinete do secretário de saúde do estado”, conta o médico. "Infelizmente, não tive esse retorno", acrescenta.


Mapa mostra cidades percorridas por Almedorino
(Foto: Reprodução/RBS TV)

Retorno a Encruzilhada do Sul

Maria entrou em contato com a Defensoria Pública de Encruzilhada do Sul para garantir um leito. “Eles me disseram que não podiam fazer nada, porque ele estava em outra cidade”, contou Maria, que não desistiu de tentar viabilizar um atendimento ao marido. “Pedi ao secretário (municipal de Encruzilhada do Sul) que buscasse ele lá então e procurasse recurso. Aí, se ele tivesse em Encruzilhada, tentaríamos entrar com recurso”, explicou. Almedorino voltou para onde havia sido atendido pela primeira vez.

Três viagens entre três cidades

A insuficiência renal se agravou durante a viagem e, logo após chegar a Encruzilhada do Sul, ele precisou ser levado a Cachoeira do Sul. O problema foi resolvido, e o homem precisou fazer mais uma viagem. Ele foi a Santa Cruz o Sul para tratar da dificuldade de circulação do sangue na perna. Lá, foi diagnosticada a necessidade de amputação da perna, o que teria de ser feito em Cachoeira do Sul. Era a quinta viagem de Almedorino. Ele chegou e foi submetido à cirurgia no Hospital de Caridade e Beneficência de Cachoeira do Sul, onde morreu devido a complicações durante o procedimento.

O outro lado


Em nota, a Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul informou que a Central de Leitos acompanhou a situação de Almedorino até a última quinta-feira (6), quando ele ainda estava em Bagé. Ele seria encaminhado para realizar cirurgia vascular, mas o pedido foi suspenso porque ele deixou o hospital por conta própria para voltar a Encruzilhada do Sul. Ainda de acordo com o órgão estadual, quando o homem retornou a Cachoeira do Sul, não foi feito o cadastro para o procedimento cirúrgico.

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