sexta-feira, 7 de setembro de 2012

ESTRATÉGIA DE RISCO

ZERO HORA 07 de setembro de 2012 | N° 17185
 

EDITORIAL


Tornou-se lugar-comum apontar, nos últimos meses, a infeliz estreiteza de visão das autoridades sanitárias no episódio da epidemia de gripe A na Região Sul. A parte mais meridional do país se viu às voltas com condições favoráveis à proliferação do vírus H1N1, como já havia ficado evidente em 2009. O resultado foi que, neste ano, o alcance da doença foi mais devastador no extremo Sul do que em países mais populosos, como a Índia. A política de prevenção e combate à gripe contrastou, por sua vez, com o caso da Argentina, onde as autoridades recorreram à vacinação em massa. Como bem lembra o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Fernando Weber Matos, o abismo entre os números de mortes atribuídas à moléstia – 63 em nosso Estado, zero na Argentina – é um fator de peso quando se discute qual foi a estratégia mais exitosa.

O governo brasileiro finca pé na tese de que é possível atacar o H1N1 por meio de uma estratégia global, alicerçada nos mesmos procedimentos do equatorial Oiapoque ao subtropical Chuí. Sustenta que não há necessidade de se partir para uma vacinação abrangente, além dos limites de grupos de risco constituídos por jovens e idosos. O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, em entrevista ao repórter Itamar Melo, de Zero Hora, foi peremptório: “Por que vou fazer uma medida que a chance de sucesso é muito baixa (a vacinação em massa), quando eu tenho uma medida que a chance de sucesso é altíssima (uso precoce do medicamento Tamiflu)”.

A questão central é se há sentido em se manter uma ação unificada de prevenção e combate ao vírus H1N1 num país com tantas variações climáticas e no qual a Região Sul se mostra particularmente vulnerável a ameaças como a gripe A. Na visão do representante do Ministério da Saúde, “idoso no Amazonas e idoso no Rio Grande do Sul para mim é igual”. Para as associações médicas e conselhos regionais de Medicina do Rio Grande do Sul e do Paraná, trata-se de opinião controversa. Sem que se chegue a um denominador comum quanto a esse ponto, será difícil avançar na definição de um plano de combate à moléstia em 2013.

É recomendável que, diante de problema de tamanha repercussão sobre a vida de milhões de brasileiros, o poder público se mostre mais ágil e permeável ao clamor da sociedade. É preciso combater os entraves burocráticos que dificultam a pronta resposta dos órgãos de saúde quando o quadro epidemiológico se agrava. Situações como essa mostram, ao mesmo tempo, o quanto é preciso avançar para que se possa garantir um atendimento à saúde de primeira linha. Como sexta economia do mundo, o Brasil reclama um sistema de saúde amplo e eficiente, com a melhoria das condições do SUS.

A população é parte fundamental da solução desses impasses. Historicamente, os brasileiros têm atendido ao chamado de autoridades, escolas e meios de comunicação e acorrido aos pontos de vacinação, além de adotar outras medidas preventivas recomendadas. Foi assim que o Brasil enfrentou e venceu a meningite, a poliomielite e outras moléstias, ainda que algumas, como a dengue e a gripe A, ainda se insinuem nas fímbrias do controle. Sobretudo, não devem os gestores de saúde perder de vista a importância de se conscientizar e envolver a população em ações sanitárias elementares.

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