sexta-feira, 19 de agosto de 2011

DO CAOS AO COLAPSO NA SAÚDE

Fernando Weber Matos, Presidente do CREMERS - ZERO HORA 19/08/2011

Nos últimos anos, a população acompanha passivamente a desordem e a falta de gestão na saúde por parte dos governos federal, estaduais e, em muitos casos, também municipais. Sucedem-se no poder os diversos partidos com loteamento de cargos entre siglas sem qualquer preocupação ideológica e identidade programática. Em comum, apenas, o discurso afiado e incisivo, durante as campanhas eleitorais, de prioridade para a saúde. Depois da eleição, as promessas viram fumaça.

O resultado prático é um orçamento que não acompanha o crescimento populacional, de 12% nos últimos 10 anos. Paralelamente, deparamos com a predominância de uma política de saúde “progressista e moderna”, que, na prática, não atinge seus objetivos. A prioridade para a saúde pública preventiva é importante, mas seus efeitos surgem após 10 anos, no mínimo, da correta e completa implantação. O que não se pode aceitar é que nesse período o tratamento da doença seja relegado a segundo plano.

E aí chegamos a um ponto crucial: a falta de atualização da tabela do SUS, o melhor convênio teórico do mundo. A remuneração insuficiente resultou no fechamento de hospitais e desempregou milhares de trabalhadores da saúde. Os 239 hospitais filantrópicos do Rio Grande do Sul, presentes em quase todo o Estado, são a demonstração mais atual e eloquente dessa realidade triste e desumana. Esses hospitais respondem pelo atendimento SUS de 70% da população gaúcha, recebendo em troca recursos muito inferiores ao seu custo operacional. Uma situação que acontece sob o olhar complacente de sucessivos governos.

O Cremers advertiu, em incontáveis debates de representações da sociedade civil sobre a crise nos hospitais filantrópicos e na saúde em geral, que os hospitais dos municípios há muito tempo transferem seus pacientes graves para as cidades maiores. Por isso, vivemos o caos na saúde, com superlotação de emergências, UTIs e escassez de leitos.

Os hospitais municipais limitam-se a atender os pacientes de pequena e média gravidade, represando os pacientes nos locais de origem. O fechamento iminente desses hospitais por falta de recursos provocará a transferência para as cidades de maior porte na busca do atendimento, que é um dever constitucional do Estado e direito do cidadão.

Os grandes hospitais, superlotados em todos os seus setores, não poderão suportar essa sobrecarga e não resta dúvida de que muitos pacientes deixarão de receber assistência. Aumentará, por certo, o desespero e a tristeza devido aos óbitos e às sequelas irreversíveis por falta de atendimento, mas nunca por falta de avisos e pedidos não respondidos pela insensibilidade de governantes, que nada fazem para impedir a caminhada sem volta rumo ao colapso na saúde do Estado.

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