domingo, 7 de agosto de 2011

MARTÍRIO E DESCASO - SEDADA COM MORFINA PARA AGUARDAR LEITO


MARTÍRIO NA SAÚDE. Mulher com fratura sofre sem tratamento. Com morfina para aliviar a dor, manicure de Guaíba aguardava leito - ANDRÉ MAGS, zero hora 05/08/2011

Doses de morfina aliviaram a dor, mas não o drama de Iones Teresinha Correia, 53 anos. Por mais de 11 horas até a início da madrugada de hoje, a manicure suportava uma fratura exposta deitada na cama de um pronto-atendimento sem traumatologia em Guaíba.

Às 12h40min de ontem, Iones conduzia sua motocicleta pela Rua São Geraldo no sentido Centro-bairro e com a neta de 17 anos na garupa. Em uma curva, bateu contra uma caminhonete. Com lesão exposta na tíbia e na fíbula, foi encaminhada ao Pronto-atendimento Dr. Solon Tavares.

O município não tem atendimento para esse tipo de paciente, e duas ambulâncias estavam estacionadas em frente ao local. Não estavam autorizadas a levar a manicure até o Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre, até o HPS de Canoas ou ao Hospital Cristo Redentor, que teriam condições de recebê-la para tratamento. O motivo era o de sempre: não havia vagas.

Por horas a fio, um médico do pronto-atendimento mantinha contato com as instituições para descobrir um lugar para Iones. Sem sucesso. Uma resolução do Sindicato Médico do Rio grande do Sul (Simers), chamada de Vaga Zero, impede que a paciente seja despejada em qualquer um dos hospitais habilitados para tratá-la.

Situação de Iones gerou mobilização em Guaíba

A medida do Simers combate a superlotação dos hospitais e visa pressionar o governo a agir em casos como o da moradora de Guaíba. Mas Iones e sua amiga Nara Vargas Pureza, 52 anos, que a acompanhava no pronto-atendimento – a família da paciente é de Camaquã e pelo menos um irmão se dirigia a Guaíba na noite de ontem – não queriam saber de impasses burocráticos. Elas desejavam ser recebidas em um hospital capacitado para salvar a perna de Iones.

A secretária de Saúde de Guaíba, Liliana Altmayer, não sabia quando a manicure poderia embarcar em uma das duas ambulâncias da prefeitura estacionadas no local.

– Já tivemos pacientes em situação semelhante que ficaram aguardando por 48 horas. Esse é o dia a dia dos municípios – lamentou.

A situação de Iones gerou mobilização. O vereador Luis Vargas tentava, por meio de uma advogada, obter na Justiça uma determinação para que a paciente fosse internada em lugar adequado para tratamento.

– Quando chegar com mandado em um hospital, o médico vai dizer que tem de tirar alguém para que ela entre? Infelizmente, essa é a nossa saúde – afirmou o vereador.

A esperança é de que na manhã de hoje algo possa ser feito em favor da manicure. De quatro em quatro horas, uma nova aplicação de morfina deverá manter Iones sem dor.

Sem solução

- Casos como o de Guaíba se repetem no Estado e expõem deficiência do SUS na área traumatológica na Região Metropolitana;

- Entre os dias 22 e 23 de julho, o porteiro Paulo Rafael Nunes Teixeira, 28 anos, esperou 14 horas para se submeter a uma cirurgia na perna esquerda. Ele havia sofrido uma fratura exposta após atropelamento em Alvorada;

- Cinco hospitais da Região Metropolitana recusaram atendimento ao paciente, devido a falta de vagas para a cirurgia ou regras de regionalização;

- Teixeira foi levado até Rio Grande, distante 350 quilômetros de Alvorada, para ser operado.

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