EDITORIAL ZERO HORA 05/08/2011
As campanhas de conscientização, decisivas para o aumento das doações de órgãos no Brasil, dependem de outras ações para que surtam o efeito desejado. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos mostra que, no primeiro semestre, metade das famílias abordadas por médicos, para saber se autorizavam a doação de órgãos de parentes em morte cerebral, respondeu negativamente. O estudo se baseou em 1.736 abordagens em todo o país. O dado é apresentado como uma revelação, porque a associação mudou a metodologia da pesquisa, considerando apenas as consultas que de fato aconteceram. É lamentável concluir que, de cada duas famílias abordadas, uma se recuse a atender às expectativas de médicos e de milhares de pessoas que estão na fila à espera de um transplante.
Mas, como admite a própria associação, é também compreensível que essa ainda seja a realidade dos hospitais brasileiros. Primeiro, porque ainda há muita desinformação sobre o que significa de fato a morte cerebral. Entre outros fatores, além da desinformação, estão as convicções religiosas e culturais. São essas as barreiras que não só a associação, mas todos os envolvidos no aumento de doações são desafiados a superar. O próprio estudo mostra que boa parte da recusa se deve à forma nem sempre adequada da abordagem, ou seja, nem mesmo os profissionais de saúde estão suficientemente preparados para comunicar os parentes da morte cerebral de alguém e, ao mesmo tempo, obter o consentimento para a doação.
Aprimorar a relação de médicos com familiares não é, no entanto, o único desafio para que o Brasil atinja, para citar um exemplo, o estágio de países como a Espanha, com índice de 35 doações para cada milhão de habitantes. O índice brasileiro é de 10 para cada milhão. Os outros desafios são representados pela melhor estruturação da rede de saúde para a retirada de órgãos, transporte e realização de transplantes, além do aperfeiçoamento da rede de comunicação entre hospitais e profissionais. O que o Ministério da Saúde não pode é adiar ações práticas do setor público, em conjunto com a área privada, para que se cumpra a ambiciosa meta da própria pasta de dobrar a taxa de doações até 2015.
COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - O editorial está corretíssimo ao registrar que a doação de órgãos precisa aprimorar a "relação médico com familiares", estruturar a rede de saúde", porém, antes é preciso uma conscientização geral na população sobre os benefícios de uma cultura de doação após a morte. Esta cultura precisa iniciar nas escolas e na mídia estimulando a solidariedade para aqueles que precisam de órgãos para continuar vivendo. E esta informação não deve vir do governo que está desacreditado junto à população, mas de setores como clubes de serviço, maçonaria, sindicatos, associações comunitárias, etc.
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