terça-feira, 2 de agosto de 2011

FRACASSO DE GESTÃO

EDITORIAL ZERO HORA 02/08/2011

Se a precarização da saúde pública brasileira precisasse de um monumento, o hospital construído em Barra do Ribeiro finalmente teria alguma utilidade. O hospital sem nome e sem responsáveis reúne, no que de fato é ou prometeu ser e no que simbolicamente representa, muitos dos descaminhos da ineficiência. Erguido há 11 anos, nunca foi usado. Inútil, não tem paternidade. Município, Estado e União trocam acusações, na tentativa de se livrar da autoria de um descalabro. Com 50 leitos e equipamentos, consumiu, só na obra civil, algo equivalente hoje a R$ 65 milhões. Desperdiçaram dinheiro público, jogaram fora contribuições voluntárias da comunidade e o abandonaram no meio do nada, à margem da RS-709, à disposição de quem procura a mais bem acabada imagem da afronta do desperdício a quem depende do SUS.

A obra inútil é uma sucessão de equívocos e se presta à avaliação dos desatinos cometidos pelo setor público não só na área da saúde, em todas as esferas, por envolver prefeitura e governos estadual e federal. É como se todos os protagonistas tivessem se combinado para erguer algo sem serventia. As avaliações são de que os erros começam no próprio projeto e foram ampliados por uma sequência de omissões. Reportagem publicada ontem por Zero Hora não conseguiu identificar responsáveis, porque todos os que de alguma forma se envolveram com a ideia transferem as explicações. O município culpa o Estado, que acusa o município, e a União se esquiva, como se não tivesse nada a ver com o esbanjamento de recursos que já são escassos.

A comunidade de Barra do Ribeiro tem o direito de pelo menos cobrar explicações. O hospital fantasma, por ser acintoso e agora visível a todos, choca até mesmo quem não reside no município. Mas seu significado é mais amplo. A obra sem serventia é um atestado das deficiências de gestão numa área essencial, que se queixa – muitas vezes com razão – da falta de verbas, mas que deveria ser mais responsável na administração da escassez. Fracassaram nesse caso, como continuam fracassando em tantos outros episódios, a União, os Estados e os municípios, incapazes de evitar que a saúde pública se perpetue como a maior aflição brasileira.

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