DESCASO COM A SAÚDE. Hospital aberto em Nova Alvorada, no norte do Estado, tem equipamentos sem uso desde 2004 - LEANDRO BECKER | NOVA ALVORADA - ZERO HORA 31/08/2011
Quando foi decidida a construção de um hospital de referência no norte gaúcho, em 1991, Nova Alvorada era uma cidade recém emancipada. Inaugurado apenas em 2004, o complexo de 1,9 mil metros quadrados de área construída nunca registrou a realização de uma cirurgia sequer.
O bloco cirúrgico inerte tem até placa na porta, mas nunca foi ativado. Se a situação complica para algum morador, o jeito é viajar 30 quilômetros até Marau ou 70 quilômetros a Passo Fundo. Na sala de parto, outra surpresa: no lugar do choro do bebês, o silêncio de máquinas paradas e dos acessórios e documentos armazenados no local, que serve como depósito.
Na sala de recuperação, equipamentos comprados em 2004 repousam cobertos por plástico. No prédio funciona um posto de saúde e a secretaria municipal de Saúde, que não soube informar quanto investiu em equipamentos. Com 16 funcionários, o hospital dispõe de 16 leitos do SUS e três particulares, para casos de pequena e média complexidades. Quando possível, recebe pacientes de Itapuca, Camargo, Vila Maria e Soledade.
– Ocupamos o espaço da melhor forma possível, mas podíamos fazer mais – lamenta Catia Basso, secretária de Saúde de Nova Alvorada.
Apesar do espaço de sobra, o município construiu salas administrativas, auditório e sanitários. Alega que não quer ocupar áreas dos blocos cirúrgicos, que ainda poderiam beneficiar a região. E, enquanto isso, negocia com o Estado a ativação do bloco para realizar cirurgias. Sem isso, as crianças de Nova Alvorada nascem em Marau.
Edilson Antonio Romanini, prefeito de Nova Alvorada, acredita que o hospital ainda pode se tornar referência regional. Mas admite que os equipamentos comprados há quase 10 anos se desvalorizaram e podem estar até defasado.
Consórcio regional é alternativa
A 6ª Coordenadoria Regional de Saúde informa ter feito mais de uma vistoria no hospital e não ter autorizado o funcionamento do bloco cirúrgico por que o espaço não cumpre exigências de estrutura, equipamentos e equipe regulamentadas pelas normativas vigentes.
De acordo com Alberi Grando, coordenador regional, se ativo, o bloco permitiria de três a quatro cirurgias diárias de pequena e média complexidade para casos como hérnia, fimose e adenoide, por exemplo. Para procedimentos semelhantes, a fila de espera em Passo Fundo é de dois anos.
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do RS, Fernando Weber Matos, o ideal seria investir em um consórcio regional para aumentar o número de leitos e deixar de ser um hospital de pequeno porte.
– Além de evitar viagens mais longas aos pacientes, seria possível ampliar a capacidade e se credenciar às cirurgias – observa Matos.
O que diz a Secretaria Estadual da Saúde, por meio da assessoria de imprensa - “ O investimento realizado na época da construção do hospital é do Ministério da Saúde. Contudo, a instalação de um bloco cirúrgico requer o planejamento de toda a rede de atendimento a qual o centro serviria de referência, o que não aconteceu nesse caso. O Departamento de Assistência Hospitalar e Ambulatorial do Estado não foi procurado sobre a constituição deste espaço no referido hospital, que inclusive não tem o acordo dos demais municípios da região, visto que Nova Alvorada não possui o porte adequado para a prestação deste serviço. No entanto, a Secretaria Estadual da Saúde autorizou a instalação de um pronto atendimento no local e está aberta a discutir outros usos para a estrutura, mais coerentes com o tamanho do município e mais responsáveis com os recursos públicos”.
O que diz o Ministério da Saúde - Procurado por Zero Hora, não se manifestou até o fechamento da edição.
Uma obra superdimensionada
- 1990 - Em visita do então Ministro da Saúde Alceni Guerra à Nova Alvorada, sua terra natal, a comunidade cobra a construção de um hospital.
- 1991 - Após convênio entre o governo federal e o município, a obra começa. O projeto inicial prevê 1.665,8 metros quadrados de área construída.
- 1997 - Dividida em etapas, a obra passa por adequações e é finalizada com 1.784,38 metros quadrados de área construída.
- 2001 - Unidade de saúde e sede da Secretaria Municipal de Saúde e Assistência Social são transferidas para o prédio do hospital.
- 2004 - Hospital é inaugurado sem autorização para funcionamento do bloco cirúrgico e sala de parto.
- 2010 - Estrutura é ampliada em 131,51 metros quadrados para abrigar auditório, sanitários e salas administrativas.
No Brasil, a saúde pública é tratada com descaso, negligência e impostos altos em remédios e tudo o que faz bem à saúde. Médicos e agentes da saúde são poucos e mal pagos; As pessoas sofrem e morrem em filas, corredores de ambulatórios e postos de saúde; As perícias são demoradas e burocracia exagerada; Há falta de leitos, UTI, equipamentos, tecnologia, hospitais e postos de saúde apropriados para a demanda; A impunidade da corrupção desvia recursos e incentiva as fraudes.
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
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