segunda-feira, 1 de agosto de 2011

HOSPITAL FANTASMA E O JOGO DE EMPURRA

Jogo de empurra torna retomada mais difícil - ZERO HORA 01/08/2011

Nem nome o hospital tem, mas todos os órgãos envolvidos na construção sabem exatamente como apontar culpados – desde que nunca assumindo a responsabilidade sobre o abandono.

O prefeito Luciano Boneberg (PP) suplica por ajuda do Estado para botar tudo em operação. Mas, segundo a chefe da 2ª Coordenadoria de Saúde, Rosângela Dornelles, o hospital jamais esteve plenamente adaptado às normas da Vigilância Sanitária, que nunca liberou seu funcionamento. Rosângela afirma que a responsabilidade é do município. Sobre o Estado ajudar, diz o seguinte:

– Quanto mais cobram, mais a gente agiliza. Só que houve pouca cobrança por parte da prefeitura.

A coordenadora reconhece, no entanto, não saber quais adequações são necessárias neste momento:

– Precisamos saber o tamanho da coisa para ver se o Estado pode ajudar. Mas, se formos ajudar em todas as adequações sanitárias, nenhuma prefeitura vai cumprir as regras.

Anacleto Miliszewski, que administrou a cidade entre 2005 e 2008, classifica esses ajustes sanitários como “a via-crúcis de todos os prefeitos de Barra do Ribeiro”:

– Os parâmetros mudam o tempo inteiro. Na minha gestão, fizemos o que mandaram: revestimos as paredes de gesso, adaptamos a climatização, mas a liberação nunca sai.

Já a assessoria do Ministério da Saúde – uma série de recursos para a construção do hospital veio de lá – informou que o Estado precisa encaminhar uma solicitação à União para que o caso seja estudado.

A pedido de ZH, uma estimativa do Sindicato dos Hospitais Beneficentes Religiosos Filantrópicos constatou que, para o local funcionar, seriam necessários entre R$ 900 mil e R$ 1,2 milhão por mês. Para se ter uma ideia, a arrecadação do município em junho foi de R$ 1,3 milhão.

– Se eu abrir o hospital, quebro a cidade – diz Boneberg, lembrando que só a contratação de médicos já lhe faria estourar os limites legais de responsabilidade fiscal.

Ex-prefeito sugere convênio para atender a Copa de 2014

Enquanto isso, no hospital, na sala onde haveria um laboratório amontoam-se aparelhos adquiridos entre 1999 e 2001, todos intactos – entre eles, uma máquina de ultrassom (custou R$ 108 mil em valores atuais), dois desfibriladores (R$ 30 mil), dois carros de anestesia (R$ 82 mil), um jogo para laboratório bioquímico (R$ 51 mil), um eletrocardiógrafo (R$ 9 mil), cinco oxímetros (R$ 23 mil). Grande parte dos equipamentos já está obsoleta.

No vazio dos quartos, incubadoras e leitos vão se entregando à ferrugem sem nunca terem acolhido um paciente. No corredor em frente à sala de radiografia – onde fica uma máquina de R$ 203 mil e outra de R$ 117 mil –, infiltrações d’água já começam a corroer paredes.

O ex-prefeito Cirineu Luiz Iplinski, que inaugurou a obra em 2000, faz uma sugestão:

– Há pouco tempo, vi o prefeito José Fortunati (de Porto Alegre) dizendo que, para melhorar o atendimento de saúde na Copa do Mundo, pretende ampliar em 500 leitos a rede hospitalar do Estado. Bom, 10% nós temos aqui.


BERÇOS VAZIOS - PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA

A reportagem das páginas 4 e 5 desta edição, que mostra um hospital inteiro ocioso em Barra do Ribeiro, sem jamais ter funcionado, é o retrato acabado dos problemas de gestão na área da saúde. A poucos minutos de Porto Alegre tem-se um hospital com 50 leitos transformado em elefante branco, enquanto a Capital e cidades vizinhas se ressentem da falta de vagas.

Para um bebê nascer em Barra do Ribeiro, só em casa, com parteira, enquanto os bercinhos vazios e os equipamentos da sala de parto enferrujam no hospital fantasma, construído com dinheiro público e com a ajuda de uma comunidade que doou até o que não podia para viabilizar a obra.

O caso de Barra do Ribeiro dá razão a quem diz que o problema da saúde no Brasil não é de falta de recursos, mas de má aplicação do dinheiro disponível.

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