terça-feira, 16 de agosto de 2011

PRIORIDADE

BEATRIZ FAGUNDES, REDE PAMPA, O SUL, Porto Alegre, Terça-feira, 16 de Agosto de 2011.

A safadeza é ininterrupta, daí falta verba para a saúde, educação, segurança pública, meio ambiente e tal...

A maneira mais fácil de conseguir pronto atendimento nas emergências dos hospitais, sem dúvida nenhuma, é praticando algum crime contra a vida ou patrimônio, cuidando, é claro, para ser flagrado no ato pela polícia, provocando, pelo menos, um ferimento à bala. Pode parecer humor sinistro ou até mesmo uma piada idiota, mas se analisarmos a realidade, a ideia é procedente. A morte do Sr. Ivari Machado Vargas, ocorrida na porta do ambulatório do mais importante hospital público na Capital com a melhor qualidade de vida, Porto Alegre - provoca uma certa depressão.

É difícil suportar a inversão absoluta de valores a que estamos expostos diuturnamente. Em Brasília, acabamos por descobrir que existe sim o "bandido especial", o marginal classudo que em nenhuma hipótese pode ter sua imagem maculada por exposição pública durante ato de prisão legal, determinada por um juiz, rigorosamente dentro da lei. Não! Os programas de TV que expõe diariamente o mundo cão são destinados a expor bandido chinelão, os quais têm suas imagens exaustivamente mostradas em cadeia nacional com direito aos mais irados adjetivos de apresentadores sedentos por justiça. Na terra do Tio Sam, o diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss Kahn, foi interceptado pela polícia e desceu do avião que o levaria para a Cidade Luz, após supostamente ter estuprado uma pobre camareira, devidamente algemado, e suas fotos, durante e depois da prisão em flagrante foram expostas em todos os jornais do planeta.

A morte de Ivanir está associada a essa leniência cotidiana. O aposentado morreu sem atendimento, dizem que ele não tinha sequer prontuário. Entendeu? Ele não tinha prontuário. Creio que nem passagem pela polícia. Rigorosamente era apenas um qualquer, um pacato cidadão, que morreu como viveu. Anônimo e sozinho no país dos mais iguais. Os hospitais filantrópicos que estão mendigando 100 milhões de reais a fim de manter o atendimento de 70% dos pacientes do SUS. A ideia do governo é repassar 50 milhões de reais de forma direta aos hospitais, sendo 36 milhões de reais referentes aos repasses federais que estão atrasados, e outros 14 milhões de reais provenientes do tesouro do Estado.

Os 50 milhões de reais restantes viriam por meio de um financiamento no Banrisul, que deve ser negociado entre o banco e as instituições. Três aqui em Porto Alegre - Hospital Parque Belém, Vila Nova e Beneficência - ameaçam fechar suas portas. Precisam de 100 milhões de reais. Um pouco menos de roubalheira e sobraria essa quantia, e sobraria. Viveríamos o melhor dos mundos. Mas, os ratos não param. A safadeza é ininterrupta, daí falta verba para a saúde, educação, segurança pública, meio ambiente e tal... É triste ver um grupo de senadores tentando evitar uma greve branca a qual pretende dar "uma lição" na presidenta Dilma, que ousou mexer em alguns poucos apontados como inimigos da pátria. E segue a prioridade invertida.

Faltam 100 milhões de reais para os hospitais, mas sobram 30 milhões de reais para a instalação de um trem ligando a estação metro com o aeroporto. Seria assim tão urgente? Pois, é! Não se trata de pensar pequeno ou de ser contra a modernidade, absolutamente, apenas ainda acredito que a vida deva ser tratada como prioridade máxima. É deprimente!

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