quinta-feira, 16 de maio de 2013

A PRIORIDADE É O PACIENTE

ZERO HORA 16 de maio de 2013 | N° 17434


EDITORIAIS


Pressionado pela Federação Nacional dos Prefeitos a encontrar uma solução para a falta de médicos em localidades de difícil acesso no interior do país e nas periferias das grandes cidades, o governo federal decidiu importar médicos de Cuba, da Espanha e de Portugal para atender a população nos municípios desassistidos. O anúncio do acordo com o governo cubano provocou imediata reação dos conselhos e associações de medicina, que classificam a medida como irresponsável, temerária e movida por interesses político-ideológicos. As entidades brasileiras argumentam que o país tem médicos suficientes, o que falta é um programa de interiorização, com plano de carreira de Estado e oferta de condições melhores de trabalho para que os profissionais possam se fixar com suas famílias nas localidades carentes.

Esse é um daqueles litígios em que todas as partes têm as suas razões, mas parece que a principal está sendo esquecida: as pessoas que clamam por atendimento, seja ele precário ou sofisticado. É em nome dos cidadãos que não têm a quem recorrer quando ficam doentes, que precisam viajar muitos quilômetros em busca de socorro em cidades vizinhas, que são transportados com frequência para os grandes centros urbanos – é por esta gente que governos e associações de classe deveriam chegar a um acordo rápido para solucionar o problema.

Ninguém pode defender que os médicos estrangeiros, cuja formação não se conhece, comecem a trabalhar sem passar pelos filtros legais e pelo exame de revalidação de diploma que testa a formação profissional. De outra parte, em tempos de globalização, não se pode simplesmente apelar para uma reserva de mercado para impedir que profissionais formados em outros países trabalhem no Brasil, especialmente se considerarmos que muitos estudantes brasileiros – inclusive de Medicina – estão buscando formação no Exterior. O que cabe, isto sim, é obrigar prefeituras e instituições de saúde do Brasil profundo a oferecer prioritariamente as vagas disponíveis a profissionais brasileiros, com prazo para a aceitação das condições oferecidas. Se no período combinado ninguém se dispuser a trabalhar pelos salários que as prefeituras podem pagar, seja pela falta de estabilidade ou de infraestrutura adequada, então estas vagas devem ser preenchidas pelos estrangeiros habilitados. O que não pode, por ser insensato e desumano, é deixar a população sem atendimento médico enquanto se discute indefinidamente a inexistência de centros de saúde modernos nessas periferias.

Assim como não se faz saúde sem médico, também não se cria uma rede hospitalar equipada e moderna do dia para a noite. O Brasil negligenciado e doente precisa com urgência de atendimento. Depois se discute um sistema ideal.



DO LEITOR ZERO HORA

Médicos cubanos

Creio que o colunista Paulo Sant’Ana (ZH do dia 11) precisa se informar melhor. De onde ele tirou que a categoria médica é contra a importação de médicos? A contrariedade se dá nos moldes que se anuncia tal medida, ou seja, sem revalidação ou prova de capacidade dos médicos.

Em 2012, 89,4% dos postulantes à revalidação não conseguiram passar na prova, em que qualquer estudante brasileiro de nossas faculdades é aprovado. É o mesmo que importar pilotos de Boeing sem revalidar o brevê.

Ricardo A. Zordan, Médico – Porto Alegre

Trazer médicos de Cuba é um erro estratégico absurdo. Precisamos de um plano de carreira para médicos, dentro do sistema público, que seja atrativo, à semelhança do que acontece no Ministério Público e na Justiça.

Tempo longo de formação, especialização, atualização constante e a complexidade das ações desenvolvidas não são remuneradas de acordo, logo há desinteresse no atendimento. Se os usuários do SUS soubessem como é o real financiamento da saúde, dariam razão aos médicos e aos hospitais.

João Pedro Cunha Calçada, Médico – Cruz Alta

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