quinta-feira, 9 de maio de 2013

FRAUDE DE LONGA VIDA

ZERO HORA 09 de maio de 2013 | N° 17427


LEITE ADULTERADO


FERNANDO GOETTEMS E JOANA COLUSSI

Transportadores misturavam água e ureia ao leite para lucrar mais, indústria não constatou irregularidades e consumidores beberam produto adulterado, constatou Ministério Público do Estado

Em um galpão com madeira podre e utensílios jogados no chão de terra, nos fundos de uma propriedade rural em Ibirubá, no noroeste gaúcho, o Ministério Público Estadual (MP) deflagrou parte de uma fraude que levou temor aos consumidores gaúchos: a presença no leite de água, ureia e formol.

Conforme a investigação, a adulteração seria feita por atravessadores que buscam o alimento nas propriedades e entregam para as indústrias. A operação, intitulada de Leite Compen$ado, resultou na prisão de oitos pessoas – duas já liberadas – em Ibirubá e Guaporé, além de investigados em Horizontina. A Latvida em Estrela foi interditada por vender produto adulterado – depois de ter sido advertida pela Secretaria de Agricultura. E uma unidade de resfriamento em Selbach acabou fechada.

Mais de cem toneladas de ureia teriam sido adquiridas pelos envolvidos na prática criminosa desde abril do ano passado, quando os primeiros lotes adulterados foram identificados em análises periódicas do Ministério da Agricultura.

Em Ibirubá, onde quatro pessoas foram presas preventivamente, a água adicionada ao produto era retirada de um poço artesiano sem tratamento, em um galpão com péssimas condições de higiene.

– Esse crime é mais grave que o tráfico de drogas, pois o traficante vende para quem quer comprar o tóxico. Na adulteração do leite, o produto é entregue ao consumidor, que não tem nenhum conhecimento sobre a situação desse produto – disse o promotor de Justiça Mauro Rochemback, titular da Promotoria Especializada Criminal de Porto Alegre.

O esquema se dava após o leite sair da propriedade e antes de chegar no entreposto – local de resfriamento do produto. A adulteração era feita no próprio caminhão. Para lucrar cerca de 10% além dos 7% já pagos sobre o leite cru, algo como R$ 0,95 no litro, essas empresas colocavam um quilo de ureia para 90 litros de água em mil litros de leite.

Nas análises feitas pelo Ministério da Agricultura, foi encontrado formol em lotes específicos das marcas Italac, Líder, Mu-mu e Latvida. Conforme o Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado (Sindilat), as remessas adulteradas teriam sido retirados do mercado tão logo a informação chegou às empresas. Embora não haja indicativos de participação da indústria no esquema, o MP afirmou que as empresas terão de responder por não terem controlado a qualidade do produto.



CONTRAPONTOS

Italac – Afirmou que “o problema foi pontual e aconteceu no transporte do leite cru entre a fazenda e o laticínio, antes de ser industrializado”. Informa ainda que os lotes mencionados na investigação foram retirados do mercado.

Latvida – Afirmou que executa as análises de rotina no recebimento do leite e que foram feitos novos testes na amostra sob suspeita pelo MP, que não comprovaram a contaminação. Conforme a empresa, os lotes identificados com problema foram retirados do mercado e não se encontram mais à venda.

Líder (LBR) – Afirmou que segue todas as regras de fiscalização do Ministério da Agricultura e que o lote mencionado na investigação do MP foi retirado do mercado em fevereiro. Informou ainda que foram descredenciadas cinco transportadoras de leite e que fechou um dos postos devido às fraudes.

Mu-mu (Vonpar) – Afirmou que “atende a todos os requisitos e protocolos de testes de matéria-prima exigidos pelo Ministério da Agricultura” e que está à disposição para novos esclarecimentos.

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