sexta-feira, 17 de maio de 2013

MÉDICOS LONGE DO INTERIOR DO BRASIL



Programa para levar médicos ao interior atende a menos de 30% dos pedidos de prefeituras. Provab do Ministério da Saúde não consegue cumprir seu objetivo e equilibrar distribuição de profissionais
MADALENA ROMEO
O GLOBO
Atualizado:17/05/13 - 8h42


Pacientes aguardam atendimento médico em unidade mista de saúde no Piauí O Globo / Efrém Ribeiro


RIO E TERESINA - Em meio à polêmica sobre a contratação de médicos estrangeiros para suprir a falta de atendimento em cidades do interior, o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab), do Ministério da Saúde, não consegue cumprir seu objetivo e equilibrar a distribuição desses profissionais pelo país. Na 2ª edição do programa, cuja contratação ocorreu em março, menos da metade (1.301) de 2.856 cidades que requisitaram profissionais foi atendida. Ao todo, as prefeituras pediram apoio federal para contratar 13.196 médicos. Porém, apenas 3.800 (28,79%) apareceram para preencher essas vagas.

O Pará só perde para o Maranhão no déficit de médicos no Brasil, de acordo com o Conselho Federal de Medicina. Porém, dez entre os 50 municípios do estado que se inscreveram no programa não receberam médicos. A diretora de Gestão de Trabalho da Secretaria de Saúde do Pará, Sônia Bahia, admite que nem mesmo com o incentivo houve interesse pelas regiões mais remotas e rurais, localidades com menos de um médico por mil habitantes. Curiosamente, três municípios da Região Metropolitana de Belém — com 3,4 médicos para cada mil habitantes — receberam quase 30% dos profissionais que ganham bolsa de R$ 8 mil e bônus de 10% na pontuação para residência médica.

— Os profissionais se inscreveram para trabalhar na Região Metropolitana ou em cidades do interior com melhor infraestrutura ou ao redor delas. Ainda temos alguns desafios pela frente — observa Sônia, que aposta no remanejamento de vagas do Provab para receber reforço.

Em Angical do Piauí (PI), a 123 quilômetros de Teresina, dos três médicos do Provab, dois se mantêm no cargo. Um foi para a residência em Fortaleza. Ontem, pela manhã, nem os outros dois estavam na cidade, pois faziam plantão em outros dois municípios.

As desistências ocorrem em todo o país e não são raras. Ao todo, de 4.392 médicos que começaram a trabalhar em março, 592 (13%) desistiram.

No começo de 2012, reportagem do GLOBO revelou que 480 cidades não tinham qualquer médico residente, especialmente em áreas remotas das regiões Norte e Nordeste. Hoje, os números oficiais mostram que apenas 37 delas foram beneficiadas pelo Provab, recebendo ao todo 42 profissionais. Essa conta exclui eventuais desistências.

Ainda assim, foram os municípios com até 0,5 médico por mil habitantes — metade do mínimo exigido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) — que receberam o maior número de médicos graças ao Provab (1.514). Na primeira fase do programa, em 2012, 1.460 médicos se inscreveram, mas apenas 460 começaram a trabalhar, e 381 ficaram até o final, em jornada de 32 horas semanais e oito horas de atividades acadêmicas.

Para ministro, números confirmam problema

Defensor do programa, o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família, Nulvio Lermen Junior, acredita que, além da bolsa e da pontuação, o programa deveria oferecer benefício adicional, como um plano de carreira.

— O grande nó é que leva o médico, mas não o fixa. Acreditamos que o ideal é ter um plano no qual sejam estimulados a ficar mais tempo no interior para depois serem promovidos.

A doutora em Saúde Pública Ligia Bahia ressalta que o Provab não tem força, sozinho, para resolver as grandes disparidades regionais.

— Finalmente colocamos de pé uma iniciativa correta, que faz sentido. Mas isoladamente, sem outras medidas, não funciona — avalia Ligia.

Em entrevista ao GLOBO, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reconheceu que é difícil a missão de fixar médicos no interior do Brasil e usa a falta de preenchimento das vagas do programa para justificar a contratação de médicos formados em outros países, como Espanha, Portugal e Cuba. Ele ressalta que o Provab é apenas uma das iniciativas do governo para levar médicos às periferias das grandes cidades e a municípios do interior do país.

— Essa demanda (não preenchida) só reforça o fato de que o país precisa de mais profissionais. O Brasil tem 1,8 médico por mil habitantes. A Argentina tem 3,2. O Provab é o maior programa de interiorização de médicos já feito no país. Mas ele sozinho não supre a demanda — admite Padilha. (Colaborou Efrém Ribeiro)

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